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Agrotóxicos: ‘Os brasileiros mataram meu pai?’

Ou um tribunal no qual os agricultores possam efetivamente denunciar violações das leis ambientais pelos sojeiros. 

Ou, talvez, recuperar a Colonia Yerutí, onde os Portillo e os Bordón estão entre as poucas famílias que sobraram das quase cem que existiam em 1991. 

Benito Jara, um dos envenenados em 2011, hoje trabalha como açougueiro em Curuguaty e diz que gostaria de voltar – se ele tivesse vizinhos.

Norma diz o mesmo. “Quero ficar aqui porque não quero me tornar como muitos daqui, camponeses sem terra.” Ela conta que vários dos que alugaram ou venderam suas terras para os brasiguaios estão agora pedindo ao governo novos lotes. Mas também são muitos os problemas em viver assediada por agrotóxicos, sem ter como transportar aquilo que sobrevive da sua colheita, e ver seus vizinhos irem embora pouco a pouco. Hoje, ela não descarta a ideia de vender os seus vinte hectares, se o comprador insistir.

Isabel Bordón, a viúva, tem um olhar perdido e encolhe os ombros quando indagada sobre o que significa para ela a decisão da ONU, tão distante e tantos anos depois da morte do seu companheiro. Ela está mais preocupada com o local onde seu filho, Diego, vai estudar daqui a três anos, quando terminar a educação básica. Hoje ele é o único aluno de sua série na escola de Yerutí, que tem um total de seis alunos e um professor.

Isabel demoliu a casa onde vivia com Rubén. E se mudou para morar com seu pai, Ruperto. Este ano, a novidade é que a soja chegou ao terreno ao lado. E eles não sabem se a mandioca que plantaram sobreviverá ao único vizinho que realmente parece estar confortável em Yerutí.

Yerutí é um dos muitos exemplos, no Paraguai, de comunidades camponesas expulsas de suas terras pelo boom de commodities – o país é o quarto maior exportador de soja do mundo (Foto: Ernesto González/El Surtidor)

*Colaborou Pedro Grigori. Reportagem em parceria com o site paraguaio El Surtidor escrita originalmente em espanhol. Edição de Juan Heilborn. Traduzido para o português por Natalia Viana.


Esta reportagem faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de agrotóxicos. Clique para ler a cobertura completa no site do projeto.

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Source: Reporter Brasil

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