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Agrotóxicos: ‘Os brasileiros mataram meu pai?’

A Senave deveria controlar quais agroquímicos são pulverizados no ar e despejados na água de Yerutí.

Rubén estaria vivo se não fosse a ausência do Estado paraguaio. 

Juntamente com outros dois moradores de Yerutí, Norma Portillo protocolou em 14 de janeiro de 2011 um processo contra o Ministério da Agricultura, o Indert e a Senave por violação do direito à vida. O processo foi aceito e um juiz pediu informações às quatro entidades. Somente o Ministério do Meio Ambiente reconheceu sua responsabilidade. O Indert nem mesmo respondeu ao questionamento judicial.

Em 15 de janeiro daquele ano, o procurador Miguel Ángel Rojas solicitou ao Tribunal de Curuguaty uma autópsia em Rubén para verificar se havia vestígios de agrotóxicos. Ele solicitou de novo em 14 de fevereiro e em 18 de maio. A autópsia nunca foi realizada. 

Ele pediu também, quatro vezes, ao Hospital de Curuguaty o diagnóstico, o histórico médico e os resultados de exames de urina e sangue de todos os pacientes de Yerutí tratados em janeiro. O promotor Rojas nunca recebeu essas informações. Só conseguiu confirmar que Rubén Portillo chegou morto ao hospital.

O promotor não anexou ao inquérito os resultados da análise dos poços de água onde foram encontrados pesticidas. Ele acusou sete cidadãos brasileiros de ferir leis ambientais, a partir de uma lista enviada pela polícia paraguaia. Mas nenhum era o proprietário ou administrador dos grandes estabelecimentos adjacentes à casa de Portillo. Um dos acusados ​​nem mesmo plantava soja; criava porcos.

Norma Portillo diz que houve até uma intimação para Rubén declarar sua própria morte.

Em Yerutí, sobraram poucas famílias, entre elas a de Rubén Portillo (Foto: Ernesto González/El Surtidor)

A ligação entre agrotóxicos, soja, doleiros e a Lava Jato 

As empresas Cóndor S.A./KLM S.A. e Hermanos Galhera S.A. ficaram fora do processo criminal. Elas receberam apenas uma notificação administrativa da Seam, com uma multa. 

Mas o caso Yerutí não foi a última vez que as duas empresas chegaram às manchetes dos jornais. 

A Comissão Bicameral de Investigação do Senado Paraguaio pediu em 2018 que se investigasse se a KLM S.A. era parte do esquema de lavagem de dinheiro de Darío Messer, o “doleiro dos doleiros”, preso pela Lava Jato em julho deste ano. Messer é amigo do ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes, que hoje também tem sua prisão decretada pela Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Cartes enviou US$ 500 mil para ajudar Messer a fugir da Justiça. 

O vice-presidente da KLM S.A., o brasileiro Newton Rodrigo Maran Salvatti, era sócio de Messer em outra empresa acusada de lavar dinheiro de subornos do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. 

Em entrevista telefônica com o site El Surtidor, Gabriel Franco, que se identificou como funcionário da KLM S.A. disse desconhecer o caso Yerutí, argumentando que a empresa chegou à região em 2015.

Por sua vez, a empresa Hermanos Galhera S.A. apareceu em uma reportagem do jornal paraguaio Última Hora como uma das possíveis empresas que invadiram a reserva florestal de Itaipu, em terras que pertenciam ao povo indígena Awa Guarani

No caso da contaminação de Yeruti, ambas as empresas foram condenadas a pagar uma multa à Seam. 

A Hermanos Galhera apelou da decisão, dizendo que o governo não podia comprovar que as terras onde foram constatadas violações das normas ambientais eram suas. O Estado paraguaio deu razão a ela.

Em entrevista por telefone, o representante legal da Hermanos Galhera SA, o advogado Bernardino Florentín, assegurou, que a empresa foi inocentada de qualquer responsabilidade pelo evento ocorrido em Yerutí porque a sua propriedade se encontra a pelo menos 20 quilômetros da comunidade. “Nós não negamos o que aconteceu em Yerut. O que dizemos é que a Hermanos Galhera não pode ter nada a ver porque estamos em outra região”.

Mesmo assim, ambas as empresas pagaram uma multa de cerca de US$ 10 mil, assinando um recibo comum. Isso equivale ao preço que se paga na Bolsa de Chicago pela soja plantada em 13 hectares de solo paraguaio. Mas, segundo um relatório da organização paraguaia Base-IS, em 2011 a Hermanos Galhera possuía pelo menos mil hectares no estado de Canindeyú.

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