Tecnologia

Quando governo sabe TUDO sobre você

Por volta das 13h, Hogan McGill, de 82 anos, e sua irmã Martha Gilliard, 90, saem de um shopping para comprar um sanduíche numa lanchonete da esquina. Segundos depois, são baleados em meio a um tiroteio. A polícia identifica Carl Cooper, de 36 anos, como o autor dos disparos. Cooper é preso em 4 de março. A PSS ajudou a localizar Cooper, mas os promotores nunca revelaram isso durante o processo. Por um motivo simples: o voo era secreto.

No ano passado, a polícia da cidade resolveu implantar o sistema de vigilância sem consultar, nem informar, a população. Ele só seria revelado em agosto, quando um repórter da revista BusinessWeek descobriu tudo. A notícia teve um aspecto ainda mais sinistro: o programa não foi financiado pela polícia.

Ela concordou, mas quem pagou a conta foi o bilionário americano John Arnold, do Texas, que ficou rico trabalhando na empresa de energia Enron – uma das maiores do mundo até quebrar, por um esquema de fraudes financeiras, em 2002. Em 2015, Arnold ouviu falar da PSS, entrou em contato com McNutt e se dispôs a pagar pelo monitoramento de uma cidade – cuja polícia a PSS deveria convencer. Assim foi feito. E toda a população de Baltimore passou, sem saber, a ser vigiada do céu.

“Eu acho que é uma invasão de privacidade”, diz o médico Brian Bush, 34 anos, morador da cidade. “Programas assim têm grande potencial para serem usadas indevidamente”, opina a professora Jessica Batterton, 29. Os dois acham especialmente incômodo a polícia ter feito tudo em segredo. “Se é para o bem comum, por que não informar e obter o apoio da população? Se a polícia tivesse sido mais aberta, eu provavelmente apoiaria [os voos]”, reclama Brian.

Outro ponto polêmico é que ninguém sabe exatamente o que é feito com as imagens. A PSS diz que são deletadas após 45 dias, a menos que estejam sendo usadas pela polícia. “Quem tem acesso a essa informação? Quão detalhada ela é?”, questiona o jornalista Kevin Naff.

“As únicas pessoas que deveriam estar com medo são os criminosos”, rebateu o porta-voz da polícia local. “Até agora, presenciamos 39 assassinatos no momento em que ocorreram”, afirma McNutt, que diz ter contribuído para resolver outros 77 crimes. Desde que o sistema começou a operar, o número de homicídios na cidade caiu 10%. Mesmo assim, ele continua atraindo oposição.

“Estamos caminhando feito sonâmbulos rumo a uma sociedade vigiada, em que somos observados por pessoas anônimas em salas de controle”, diz Emma Carr, da ONG britânica Big Brother Watch. Jay Stanley, da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), reconhece que já existem mais de 700 câmeras da polícia nas ruas de Baltimore. “Mas essas câmeras não cobrem cada milímetro da cidade, nem são usadas em conjunto com um sistema de inteligência artificial”, afirma.

“Não se engane: a nova tecnologia é um salto rumo a um futuro de vigilância ainda desconhecido.” Inclusive porque ela pode ficar ainda mais implacável. É plausível que, num futuro próximo, os aviões da PSS sejam substituídos por drones movidos a energia solar, capazes de voar ininterruptamente. Fallujah, Dayton, Juárez e Baltimore podem ser apenas o início de uma nova era, em que a vigilância aérea se tornará regra – e ninguém mais dará muita bola para a própria privacidade. Exatamente como acontece, hoje, na internet. Fonte: G1

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