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Presas de SP criam cooperativa e empreendem da cadeia: "Tenho direito de tentar mudar"

 Presas ganham um dia a menos na prisão a cada três que trabalham na cooperativa (Foto: BBC)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Assinatura BBC topo (Foto: BBC)

 

O maior sonho de Tânia Rodrigues é pegar toda sua história, virá-la do avesso e, a partir daí, tornar-se um exemplo a ser seguido. Seria uma reviravolta, um “modelo de superação” para seus três filhos que a aguardam do lado de fora da prisão, mas também para outras mulheres que, como ela, dormem diariamente trancadas em algum presídio do Brasil.

“Pensava muito sobre o que eu faria da minha vida quando sair daqui, pois estou marcada, carimbada como uma presidiária”, diz ela, que tem 34 anos e está há três na detenção feminina Tremembé 2, no interior de São Paulo. Foi condenada por tráfico de drogas e receptação.

Retirar o “carimbo” da cadeia é o que ela e outras 29 mulheres estão tentando fazer: com ajuda de uma ONG, elas criaram uma cooperativa de artesanato e costura. Todos os dias, deixam suas celas para produzir material em três salinhas contíguas, em outra área do presídio.

Iniciativas parecidas são raras no Brasil, que tem 42 mil mulheres presas. No total, o país tem 726 mil detentos – a terceira maior população carcerária do mundo em números absolutos.

O projeto em Tremembé foi inspirado na primeira e, até pouco tempo atrás, única cooperativa de presidiárias do país, em Ananindeua, na região metropolitana de Belém.

Há poucos meses, a ONG Humanitas360 procurou o governo e a Justiça de São Paulo para tentar replicar a experiência paraense. “Quando explicamos o projeto, poucas presas quiseram participar. Depois, uma foi contando para a outra e chegamos em 30 pessoas. Hoje, o presídio inteiro quer entrar”, diz Ricardo Anderáos, vice-presidente de operações da Humanitas360.

 Em breve, o material produzido pelas presas será vendido em lojas fora da cadeia (Foto: BBC)

 

É comum as presas trabalharem para empresas e fundações que atuam em detenções. Nestes casos, elas recebem um salário e redução de um dia de pena a cada três trabalhados.

No caso da cooperativa, além da remissão de pena, elas vão dividir os lucros dos produtos a serem vendidos. “Tivemos de convencê-las de que são elas que vão construir a cooperativa, elas serão sócias e responsáveis por tudo”, diz Anderáos.

Nos últimos meses, as presas participaram de oficinas diárias de desenho, costura, artesanato e design. A ideia é liberar a criatividade e desenvolver produtos interessantes. Em breve, eles serão vendidos em lojas fora da prisão. O governo de São Paulo se comprometeu a comprar a primeira fornada de criações.

Para Daiane Roberta Fernandes, diretora de trabalho e educação da penitenciária, a cooperativa ajudou a dar noções de empreendedorismo às presas e pode ajudá-las a se recolocar no mercado de trabalho fora da cadeia, movimento difícil por causa do preconceito contra egressos do sistema. “As empresas têm dificuldade de inserir as presas no emprego. O histórico infelizmente pesa”, diz.

 A artesã Tânia Rodrigues está presa há três anos, condenada por tráfico de drogas (Foto: BBC)

 

Já Anderáos, da Humanitas360, acredita que iniciativas desse tipo podem, no futuro, ajudar a diminuir a violência dentro e fora dos presídios. “Um dos pontos chaves da violência social é a questão carcerária. O encarceramento em massa alimenta as facções criminosas, pois, em geral você coloca pessoas condenadas por delitos não violentos para serem alistadas por grupos de criminosos”, diz.