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Como o coronavírus vai mudar a paquera online definitivamente

Foi um momento agradável, mas o companheiro de Ayana, cometeu um erro imperdoável, ao fazer muitos pedidos adicionais de ligações por FaceTime, enviar várias mensagens de texto, emojis e até se oferecer para preparar o jantar em sua casa, violando o decreto de quarenta no estado de Nova York. Ela acabou perdoando a transgressão, profundamente consciente de que as regras de distanciamento social tem feito as pessoas se sentiam sozinhas. Por fim, ela gostou da conexão virtual e planeja continuar agendando novas, mas não com seu primeiro date. “Para encurtar a história”, diz ela, “eu cortei relações”.

Por enquanto, os aplicativos de namoro têm tido poucas oportunidades de transformar esse novo comportamento do usuário em fluxos de receita adicionais. Eles estão muito concentrados no modo de sobrevivência uma vez que enfrentam previsões de queda nas vendas neste trimestre e possivelmente além, de modo a eliminar qualquer possibilidade de cobrar mais por recursos adicionais. “As estimativas [sobre receita e lucro] vão cair. Ninguém sabe realmente quanto”, diz Benjamin Black, analista da Evercore (empresa global independente de consultoria de banco de investimento). Gastar dinheiro com encontros é “algo que pode ser controlado temporariamente. Você não vai morrer sem isso. Isso não é um produto básico para o consumidor”, diz.

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O app de paquera Plenty of Fish lançou uma função de transmissão ao vivo em seu aplicativo, que, é claro, seus usuários podem acessar gratuitamente. A empresa percebeu como este recurso cativou grande parte da Ásia e começou a testá-lo no Texas no final do ano passado. Originalmente, o lançamento estava previsto até o final de junho; mas ao invés disso, estreou no mês passado. O serviço permite que os usuários transmitam um vídeo ao vivo, enquanto outros se sintonizam como se estivessem assistindo um monólogo de um apresentador de TV. Se o indivíduo gosta do que vê, envia uma mensagem direta ao criador da live e segue adiante.

“Quando tudo isso começou a acontecer por causa da pandemia, decidimos acelerar nossos planos”, diz Malgosia Green, CEO do Plenty of Fish. “Tornou-se realmente um ótimo momento para divulgarmos o recurso a pessoas presas em casa que não conseguem conhecer outras do jeito que estão acostumadas.”

Até agora, o objetivo dos aplicativos de manter seu público parece estar funcionando. O número de usuários ativos semanais de Tinder, Bumble e de outras cinco maiores plataformas de paquera, permaneceu praticamente inalterado de fevereiro a meados de março, de acordo com os dados mais recentes disponíveis da App Annie, empresa de São Francisco, Califórnia (EUA) que analisa o ecossistema de aplicativos.

Esses números não dizem tudo, dado que a maior parte dos Estados Unidos ainda saía de casa e se encontrava durante esse período. Mas os dados do App Annie são globais e incluem o uso em países que passaram por medidas de isolamento por muito mais tempo, o que indica possivelmente que o importante mercado norte-americano seguirá o mesmo padrão.

Parece inevitável que as empresas de paquera encontrem uma maneira de monetizar a crescente afinidade com encontros virtuais, embora nenhuma delas comente sobre os planos futuros para isso. E, por mais que uma economia em crise inquestionavelmente elimine alguns gastos do consumidor, há uma reviravolta irônica nisso tudo. O encontro presencial é caro. Como se sabe, as saídas para bares e restaurantes já não eram um programa possível de ser realizado com muita frequência pela maioria da população antes da quarentena. Todavia, um encontro virtual tem um ROI de custo baixo, sem bebidas e jantares caros ou uma tarifa de Uber. Ficar em casa não custa mais do que já se paga em um plano de dados ou no uso do próprio aplicativo de paquera.

“Definitivamente, já ouvimos falar de pessoas que veem a possibilidade de se engajar em vídeos online e conhecer outros por meio de transmissões ao vivo e chats como uma maneira de expandir sua vida de paquera enquanto ficam em casa”, diz Green, da Plenty of Fish. Aplicativos como o dela provavelmente seguirão o modelo de negócios estabelecido no setor, oferecendo serviços como a funcionalidade de transmissão ao vivo de graça com extras adicionais por uma taxa recorrente, talvez limitando o tempo que um usuário não pagante pode transmitir uma live. É possível que outros aplicativos limitem o número de conversas por vídeo o qual permitem que os indivíduos façam por mês.

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