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Como o coronavírus vai mudar a paquera online definitivamente

Getty Images / Dimitri Otis
Segundo Kang, CEO dos Coffe Meets Bagel, os novos modelos de encontro por vídeo permitem uma maior interação de modo a dar mais uma chance ao outro ao invés de dispensá-lo com base em uma foto ou em alguns segundos de conversa

Sessenta rostos olham de volta para Dawoon Kang, cada um fechado em quadrados enfileirados enquanto ela inicia uma chamada de Zoom agendada para às 20h. É uma multidão diversificada —homens, mulheres, brancos, negros, asiáticos, latino—, mas todos são jovens, vivem na cidade de Nova York ou nas proximidades e membros do Coffee Meets Bagel, o aplicativo de namoro que Kang fundou e dirige.

Um mês atrás, antes que o novo coronavírus começasse a se espalhar pelos Estados Unidos, tudo parecia profundamente estranho, uma contradição direta com a finalidade do aplicativo: formar pares entre os usuários e incentivá-los a se encontrarem cara a cara. Mas estes não são tempos normais. A maior parte do país está sendo instruída a ficar em casa, evitar interações desnecessárias e isso definitivamente inclui momentos íntimos com alguém que ainda não conhece.

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“Este não é um formato tradicional de paquera por vídeo ou encontro rápido. Não há pressão para passar uma imagem específica ou dizer algo perfeito”, diz Kang, de 37 anos, de sua casa em São Francisco, Califórnia (EUA). “Pensamos que seria ótimo fornecer um espaço para compartilhar o que estamos experimentando e apenas tentar algo diferente e divertido”. Para deixar todos à vontade, ela admite: “Eu definitivamente não estou usando maquiagem”.

Kang não está sozinha em seu projeto. Todos os concorrentes do Coffee Meets Bagel —Tinder, Bumble e Hinge, entre outros, estão se esforçando para evitar que se tornem vítimas corporativas da Covid-19, da mesma forma que os organizadores de festivais e donos das linhas de navios de cruzeiro.

Há muito a proteger. Os aplicativos de paquera passaram a última década convencendo a sociedade a namorar online, de modo a eliminar o estigma que se apegava à prática desde suas origens na era original das pontocom. Hoje, é mais provável que os casais estabeleçam um relacionamento por meio de uma “paquera digital” do que em qualquer outro ambiente, de acordo com um estudo de 2019 de Stanford. Conversar com alguém em um bar —ou então conhecê-lo por meio de amigos, família ou trabalho– pode parecer tão singular como um soneto de amor ou esperar o casamento para fazer sexo. À medida que o namoro online se tornou a nova norma de se relacionar, uma indústria global de US$ 6 bilhões em vendas surgiu à sua volta.

No curto prazo, pelo menos, todos estão vivendo em prisão domiciliar, uma situação que já levou a reuniões familiares no Zoom, happy hours no FaceTime, noites de jogos virtuais e visualizações sincronizadas da Netflix. Mesmo o Meetup, site social que visa conectar pessoas com afinidades compartilhadas, está se apressando para se proteger dos impactos da pandemia, de modo a migrar para reuniões online. Os seres humanos são imensamente adaptáveis –especialmente quando movidos por algo tão primitivo quanto a companhia. Por esse motivo, o distanciamento também tem mudado a forma como se namora e, provavelmente transformado os hábitos permanentemente.

Os aplicativos de paquera estão impulsionando os usuários a se encontrarem virtualmente ao lançarem novos recursos baseados em vídeo, de modo a tornar mais simples conhecer mais pessoas e organizar encontros como os que Kang idealizou no Coffee Meets Bagel. A rede social de relacionamentos Match lançou uma linha direta gratuita para quem luta a fim de entender toda a situação atual com o lema “nada está fora dos limites”. O Grindr, aplicativo de paquera gay muito popular, tem oferecido dicas de sexo por telefone, e a plataforma –não conhecida pela modéstia– inclui, entre suas características, ser muito descritiva e extravagante com fantasias.

“Apesar de estarmos socialmente distantes, definitivamente não estamos desconectados”, diz Elie Seidman, CEO do Tinder, que relata que as atividades diárias de mensagens entre os usuários norte-americanos do aplicativo aumentaram de 10% a 15% em todo o país. “Mais do que nunca, ter alguém com quem conversar pode fazer a diferença no mundo”.

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