CC Summit 2019: nossa 1ª participação como novo capítulo brasileiro
No dia seguinte, último do evento, continuei a acompanhar a discussão sobre a relação dos países da América Latina com o CC. Representantes de Colômbia, Argentina e México comentaram a atuação dos capítulos dos quais fazem parte.

A representante do capítulo mexicano apresentando suas estratégias de renovação e seus sucessos. Os outros representantes destacaram que a mudança sugerida pelo CC global aos capítulos locais foi confusa e difícil, dando a impressão de que houve uma desarticulação de tudo que havia sido construído até então. Houve uma fala ainda em favor de que a GCN e o QG do CC devem servir os capítulos e não o contrário, e que essa seria a única forma de garantir a capilaridade do CC a nível global.
Outros participantes também destacaram que a demanda por reativação das redes locais do CC é algo que precisa acontecer. Mas, com a mudança promovida pelo CC Global há uma burocracia em inglês difícil de ser compreendida pelas pessoas que se interessam em participar.
Também foi ressaltada a importância da retomada das agendas digitais nos países da região, o que vem perdendo fôlego e espaço nos últimos anos. Com isso, também foi dito que a articulação entre os países deve ser reconstruída, para colaborar na retomada do crescimento da cultura do compartilhamento.
Projetos wiki e instituições de memória
Por último, vale destaque para uma apresentação que vi no último dia e que trouxe algumas provocações que me fizeram pensar em algumas questões que trouxe em um artigo meu, recentemente publicado. A comunicação foi feita por um profissional da Holanda e era relativa à devolução dos dados dos projetos Wikimedia de volta para as instituições GLAM. Ele destacou que as instituições culturais acabam usando muito pouco as informações produzidas por terceiros, como aquelas que são criadas em projetos colaborativos como a Wikipédia.
Em uma pesquisa feita com instituições europeias e lançada no início de 2019 foi constatado que a maioria das GLAMs usa apenas informações produzidas pelo próprio setor, como tesauros e outros tipos de vocabulários controlados. Outras acabam recebendo informações diretamente do seu próprio público, que se comunica por e-mail, telefone etc.
A pesquisa também mostrou que as GLAMs confiam pouco em projetos como o Wikimedia Commons e no tipo de informação disponibilizada pelo repositório. Com isso, a recomendação deixada pelo palestrante foi a de mudar a posição do repositório de algo “crowdsourced” para se tornar uma autoridade para o setor. Para isso, seria necessário mudar a forma de pensar da comunidade Wikimedia sobre os projetos.
Acredito que mudar a forma de pensar de toda uma comunidade sobre um determinado uso de projetos Wikimedia – no caso, o uso pelas instituições GLAM – seria algo, no mínimo, desafiador. Todavia, penso que as instituições culturais também precisam mudar sua forma de pensar. Não sei se tornar os projetos Wikimedia em produtores de catálogos de autoridade ou eles próprios se tornarem autoridades para a área de patrimônio cultural é algo que vai resolver o problema de retorno dos dados, caso a próprias instituições não se posicionarem de forma diferente. A abertura, portanto, deve funcionar dos dois lados.
Termino por aqui meu relato, destacando a grande oportunidade que foi a de ter três dias para mergulhar mais a fundo no universo CC. Foi importante conhecer a visão dos colegas da América Latina sobre a organização e entender, de mais perto, quais desafios são semelhantes e quais são diferentes – principalmente para a área GLAM. Ainda compreendo que há um grande caminho a ser percorrido para que o diálogo entre profissionais do hemisfério norte e hemisfério sul se equalize um pouco mais. Acredito também que, no que se refere à expansão das iniciativas OpenGLAM na América Latina, o esforço ainda reside na difusão da filosofia do Commons e no treinamento, em língua local. Sem isso, fica ainda mais complicado trazer mais agentes para uma discussão que se pretende igualitária (ou em processo de construção para tanto).

Fonte: Creative Commons BRASIL RSS