Tecnologia

Aplicativo abre dados do 911, telefone de emergência dos EUA

Uma jovem caminha sozinha por uma rua escura de Nova York. Ela percebe um homem encapuzado vindo atrás e disca 911. A polícia recebe a mensagem de rádio, mas está a quilômetros de distância. Simultaneamente, celulares nas proximidades recebem um alerta de que há um ataque em andamento. Moradores locais acorrem à cena de carro, de bicicleta ou a pé. O homem encapuzado joga a vítima no chão – no exato momento em que os vizinhos chegam, sacam os iPhones e filmam, detendo o ataque e cercando o criminoso até a polícia chegar. Esse foi o enredo que Frame escreveu para o vídeo que anunciaria ao mundo sua nova empresa, a Vigilante. Apesar de sua promessa de abandonar a tecnologia, a ascensão dos smartphones o atraiu de volta ao jogo.

Frame teve a centelha que levaria à Citizen em 2015, quando observava os fundos de antigos cortiços no sul de Manhattan. Ele pensou nos sinais modernos e invisíveis que cruzavam aqueles prédios do século 19. Chamadas sem fio, wi-fi, rádio de polícia. E se houvesse uma maneira de os smartphones captarem chamadas de emergência? Ele correu para dentro e contou para seus engenheiros – em uma semana, eles já tinham um protótipo.

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A Vigilante e seu vídeo estrearam em 25 de outubro de 2016. Ninguém notou. Para animar a equipe, Frame a convidou para jantar. “O astral não podia estar mais baixo”, lembra. Entre o couvert e as massas, tudo mudou. “Alguém deu uma olhada no vídeo e notou que as visualizações saltaram de 300 para 27 mil. Dez minutos depois, eram 54 mil.” Na manhã seguinte, a Vigilante era o assunto do momento.

O vídeo viral da Vigilante atraiu a atenção da Apple e do Departamento de Polícia de Nova York. “Eu fui contra”, afirma o ex-comissário Bratton. “Achei que os mapas da criminalidade assustariam as pessoas e incentivariam outras a interferir nas investigações.” Alguns dias depois do lançamento, a Apple telefonou para Frame. A Vigilante violava a regra 1.4.5: “Os aplicativos não devem incentivar os clientes a participar de atividades (como apostas, desafios etc.) ou a usar seus aparelhos de maneira que envolva risco de danos físicos a si mesmos ou a outras pessoas.” Frame enrolou por três horas, argumentando que estava operando uma ferramenta de segurança, não um aplicativo de combate ao crime – mas o nome Vigilante e o vídeo depunham contra ele. A Apple proibiu o aplicativo. O crescimento emperrou. Um amigo de Frame, Dave Morin – sócio da Slow Ventures e um dos primeiros executivos do Facebook –, já havia trabalhado na Apple e intercedeu pela Vigilante junto ao CEO, Tim Cook. “O aplicativo estava colocando nas mãos dos cidadãos a criação de uma rede de policiamento melhor”, reflete Morin. “Tem tudo a ver com dar poder às pessoas, que era a missão original da Apple.”

Frame alterou o nome para Citizen e mudou a mensagem de marketing, passando de combate ao crime para conscientização de segurança. A Apple reintegrou o aplicativo em março de 2017. Agora, a empresa tem de resolver
outro problema urgente: como – sem anúncios – ganhará dinheiro? Fontes da empresa falam em cobrar de universidades, aeroportos, estádios e outros locais com muitas pessoas para permitir que as autoridades enviem avisos aos usuários – seja para disparar instruções de emergência, seja para controlar o pânico após um alarme falso.

Uma nova versão está programada para estrear no último trimestre. Frame jura que a Citizen não ganhará dinheiro com anúncios nem com o compartilhamento de informações dos usuários – uma mudança e tanto para quem foi um hacker atrevido. “Quando o juiz me deu liberdade condicional, foi como se eu estivesse curado de uma doença terminal”, diz Frame. “Depois daquilo, eu não passo nem em sinal vermelho.”

Reportagem publicada na edição 70, lançada em agosto de 2019

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Fonte: Forbes

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