Tecnologia

Aplicativo abre dados do 911, telefone de emergência dos EUA

Mike Vernal, sócio da Sequoia Capital, percebeu o potencial do Citizen depois de vivenciar uma situação de risco. Durante uma viagem a Nova York, ele viu um alerta do app sobre um esfaqueamento a poucos metros de seu hotel, em Columbus Circle. Sua esposa estava saindo para comprar leite para o filho pequeno, e ele mandou mensagens freneticamente para ela sobre o perigo. “Saber desse evento antes de a polícia aparecer me pareceu muito valioso”, diz Vernal. “Não há muitos aplicativos capazes de alcançar mais de 1 bilhão de usuários. Depois dessa experiência, eu me convenci de que este é capaz disso.”

A Citizen obtém todas as suas informações escutando as mesmas transmissões de rádio públicas que amadores, jornalistas e criminosos acompanham há décadas. Ela opera sem ajuda – nem permissão – das autoridades. O R1, um dos itens centrais da tecnologia da Citizen, atua como um rádio de polícia turbinado, monitorando e gravando simultaneamente 900 canais públicos de rádio na rede de socorristas de uma cidade: polícia estadual e local, bombeiros e serviço médico de emergência, trânsito e segurança de aeroportos. A cada dia, 20 aparelhos R1 grava mais de 2 mil horas de transmissões de rádio. O tamanho pequeno, a alta eficiência e o grande alcance do R1 permitem que a Citizen se expanda para uma nova cidade sem investir em novos imóveis ou em uma equipe local. Com isso, a empresa cobre toda a cidade de Baltimore com um dispositivo não muito maior do que uma lata de tempero Old Bay, típico da região.

Depois que o R1 da Filadélfia digitaliza o informe sobre um homem perambulando com uma espingarda, a inteligência artificial (IA) customizada do app processa imediatamente o clipe de rádio, cortando a estática e os trechos vazios, transcrevendo o áudio, extraindo palavras-chave (homem, espingarda, rua Wanamaker) e fixando em um mapa digital um ponto vermelho no local onde o homem foi visto pela última vez. A partir daí, um analista de comunicação assume, ouvindo a mensagem do 911, escrevendo um aviso curto e enviando-o aos usuários do aplicativo que estão a até 400 metros do incidente (eventos diferentes têm raios de alerta diferentes: por exemplo, 800 metros para um incêndio; uma cidade inteira para uma ameaça terrorista). A Citizen emprega 38 analistas que, para prestar cobertura ininterrupta, trabalham em três turnos de oito horas.

Jamel Toppin

Cautelosa com a invasão de privacidade – e com ações judiciais – a Citizen publica apenas ameaças à segurança. Relatos sobre pessoas suspeitas, problemas médicos, suicídios ou distúrbios domésticos não são publicados, e um operador humano analisa cada postagem. Os alertas contêm uma breve descrição, o endereço exato e a distância do usuário. Com um toque, o aviso se expande e exibe um mapa, detalhes adicionais e comentários de usuários. Pelo aplicativo, você pode explorar emergências recentes em toda a cidade, que são assinaladas pelos pontos vermelhos. O mapa de Nova York parece estar com sarampo.

Se você estiver perto o suficiente de um incidente, um botão de gravação aparecerá no seu celular, permitindo que você filme e publique um vídeo ao vivo da ação. Frame diz que seus funcionários analisam todo o conteúdo antes de ele chegar à plataforma, a fim de proteger a privacidade, evitar trotes e impedir a transmissão ao vivo de assassinatos e violência (problema recorrente no Facebook e no YouTube). Os usuários não são pagos pelos vídeos.

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Os adeptos veem o Citizen como uma maneira de monitorar a segurança da vizinhança. Outros acreditam que o recurso de vídeo ao vivo pode ajudar a proteger tanto os suspeitos quanto a polícia. “Ele permite que as comunidades e os agentes da lei tenham um relacionamento mais transparente, responsável e confiável – e isso pode ser transformador”, diz Ben Jealous, ex-dirigente da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor e atualmente sócio da Kapor Capital, que investiu no aplicativo. Para seu criador, a Citizen é o ponto culminante das duas forças que moldaram sua vida: a tecnologia, área na qual ele tem sido empreendedor em série, e os agentes da lei, dos quais ele tem sido alvo há muito tempo.

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