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Maioria dos estados não tem laboratórios para identificar agrotóxicos em alimentos

A má distribuição dos laboratórios também acarreta em problemas de logísticas, segundo Dias. “A amostra a ser analisada, idealmente, tem de chegar logo. Com poucos laboratórios no Nordeste e Centro-Oeste e nenhum no Norte, elas acabam tendo que viajar por longas distâncias e isso pode comprometer o resultado”, explica.

A reportagem questionou o Ministério da Agricultura sobre o número de laboratórios que fazem análise de agrotóxico no Brasil. Na visão do órgão, a capacidade dos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária para atender às atuais demandas oficiais de análises de resíduos de agrotóxicos em produtos vegetais, conduzidas pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), está adequada.

Promessas

Para lidar com a fragilidade da rede laboratorial de análises de agrotóxicos, o governo criou em 2008 a Rede de Laboratórios de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Animal e Vegetal, a RCC, coordenada pelos ministérios da Agricultura e da Ciência. Um dos objetivos era apoiar a capacitação de laboratórios para que eles fizessem análises como as de agrotóxicos. Porém, a visão dos cientistas é a de que essa teoria nunca se transformou em prática.

Rogério Dias, da ABA, trabalhava no ministério em 2014, quando ocorreu uma reestruturação na RCC para tentar tornar o projeto mais ágil. Ficou definido que cinco laboratórios integrariam um grupo chamado de Laboratórios Centrais, que incluía o da Fiocruz, Instituto de Tecnologia de Pernambuco, Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, UnB e da URFJ. “Com eles, a ideia era padronizar as análises e capacitar os demais laboratórios”, diz.

Ele conta que na época houve investimento nos laboratórios, mas que diversos problemas acabaram diminuindo o sucesso do projeto. “O Ministério da Agricultura (Mapa) investiu em equipamentos, mas não tinha gente para operar. Aí o da Tecnologia entrou com bolsas para que os bolsistas operassem os laboratórios, e o Mapa entrou com a verba para comprar os reagentes. A liberação das bolsas veio antes da verba, e os bolsistas não tinham reagentes. Quando os reagentes chegaram, já havia acabado a duração das bolsas.” 

Danielle diz que até mesmo na comunidade científica, muitos pesquisadores nem sequer conhecem a rede. “Conhecendo a rede, teríamos suporte não só em relação à capacitação, mas aos consumíveis [agentes químicos] que são necessários.”

A Agência Pública e a Repórter Brasil questionaram o Ministério da Agricultura e o Ministério da Ciência, responsáveis pelo projeto, sobre sua atual situação. O Mapa informou não ter informações concretas sobre o atual funcionamento da rede e que a coordenação é de responsabilidade do Ministério da Ciência, que, por sua vez, não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem.  

Futuro do PARA

O Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) é o principal relatório de análise de pesticidas do país e, desde 2001, já analisou 30 mil amostras de 25 tipos de alimentos, mais de 70% do que é consumido de frutas, cereais, raízes, legumes e hortaliças. Mas desde 2013, os relatórios deixaram de ser anuais, como aconteceu entre 2007 e 2012. Em 2016, foi divulgado um compilado dos três anos anteriores e, desde então, o governo não publica nenhuma informação sobre agrotóxicos em alimentos. A Anvisa informou, via assessoria de imprensa, que não houve coletas em 2016 por conta de uma reestruturação, mas que o processo foi retomado no ano seguinte e que os resultados serão divulgados ainda em 2019. Questionada sobre esse longo período entre as coletas e a divulgação, o órgão disse que o programa agora tem mais etapas.

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Fonte: Reporter Brasil

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