Tecnologia

Como os dados abertos podem revolucionar as cidades

Uma das formas mais populares de dados oferecidas pelo HRI é um verdadeiro monstro do Excel: uma planilha de todas as compras da cidade atualizada mensalmente desde 2012. Mas o catálogo contém mais de 600 conjuntos de dados que podem ser acessados por qualquer pessoa e combinados para encontrar novas soluções criativas. O site também é usado para compartilhar ideias sobre aplicativos que seus inventores não tiveram tempo de implementar. E, caso alguém procure por algo que não está disponível, pode fazer a sugestão para que seja incluído na plataforma.

Os resultados práticos desse movimento já existem. Um deles é o Whim, aplicativo de mobilidade criado por uma startup local que utiliza os dados abertos da cidade e pode ser usado para solicitar e pagar por transporte público, táxi e aluguel de carro com uma taxa mensal ou pagamento único. Por trás da ideia do app, que vem sendo chamado pela FORBES norte-americana de “Netflix dos transportes”, está a Maas Global, companhia finlandesa de tecnologia que acabou de receber € 10 milhões da BP Ventures, braço de investimentos da BP. Nos últimos dois anos, a dona do aplicativo – que integra todos os modais da cidade em uma plataforma única, incluindo bicicletas e veículos compartilhados e contabilizada mais de 6 milhões de viagens realizadas – já recebeu investimentos de € 53,7 milhões e expandiu sua atuação para Birmingham, no Reino Unido, Viena, na Áustria, e Antuérpia, na Bélgica.

Mas há outros exemplos de iniciativas viabilizadas pela política de open data de Helsinque. Um deles é o BlindSquare, considerado atualmente um dos melhores aplicativos de smartphone para GPS do mundo para deficientes visuais. Com mais de 10.000 usuários em 130 países, a ferramenta só pode ser desenvolvida graças aos dados disponíveis e às tecnologias de síntese de fala e do leitor de tela VoiceOver, dos dispositivos Apple. Outro é o Parkman, aplicativo móvel que permite aos motoristas encontrar e pagar pelo estacionamento facilmente em apenas alguns segundos. Em 2011, a ideia foi premiada como a melhor utilização de dados abertos na competição Apps4Finland. Fora da Finlândia, o Parkman está atualmente disponível em outras 20 cidades e vem sendo ampliado o tempo todo.

Inovação em cidades fará o Brasil crescer

Por mais que smart cities seja um termo frequentemente citado nos ambientes de inovação e tecnologia, a grande verdade é que cidades verdadeiramente “inteligentes” ainda não existem, por uma série de motivos incluindo a necessidade de infra-estrutura necessária para materializar esta visão. Segundo o Open Data Institute (ODI), organização internacional que promove o uso de dados abertos, garantir cidades mais abertas e transparentes é um objetivo factível e precisa ser o foco de administrações mundo afora.

Em uma crítica a prefeitos que se gabam de suas iniciativas de cidades inteligentes, o ODI diz que por mais que pilotos sejam cada vez mais frequentes, cidades são complexas e nenhuma conseguiu conectar as iniciativas até agora. Comentaristas como Ben Green, autor do livro “The Smart Enough City”, argumentam que as agendas das empresas de tecnologia e autoridades nem sempre estão alinhadas. Outro problema advindo desta falta de alinhamento é a ausência de relevância, inclusão e até ética em muitos projetos, bem como a percepção que algumas destas ofertas nunca seriam possíveis de fato.

Mas a cultura de dados abertos é essencial para a inovação, e o que acontece nesse sentido em cidades é crucial para que o Brasil aumente sua competitividade, segundo os autores do Índice Global de Inovação (IGI), produzido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, em parceria com a escola de negócios Insead e a Cornell University. O Brasil tem despencado nesse ranking na última década, ficando entre a 60ª e 70ª posição entre 129 países.

O professor da Insead e co-autor do relatório, Bruno Lanvin, acredita no potencial de iniciativas acontecendo em cidades brasileiras, particularmente fora do eixo Rio-São Paulo, uma das maiores tendências em inovação para os próximos anos.

“Tenho uma forte crença no poder de municípios globais para mudar o mundo, muito mais do que governos federais ou estaduais”, Lanvin disse à FORBES no ano passado. “Esta é uma área onde cidades brasileiras, junto com os diversos atores do ecossistema de inovação, têm um papel importante a desempenhar.”

Existem iniciativas lideradas pelo governo federal na direção da abertura de dados governamentais, como o Portal Brasileiro de Dados Abertos, bem como diversas iniciativas lideradas por cidades no território nacional. No entanto, também existem muitas limitações e desafios a serem enfrentados para estabelecer uma cultura de abertura de dados no país.

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