Tecnologia

Como os dados abertos podem revolucionar as cidades

 Dong Wenjie/Getty Images
O uso de dados abertos é essencial em projetos que buscam criar as cidades inteligentes

Cidades como Londres querem sofisticar seu compartilhamento de dados públicos, mas só a tecnologia não determina o sucesso destes planos.

O uso de dados abertos é um fator essencial de projetos que buscam criar as chamadas cidades inteligentes, ou smart cities. Nesta semana, uma das cidades pioneiras na adoção da abordagem traçou os próximos passos de evolução da sua jornada.

Uma parte cada vez maior da população viverá concentrada nas cidades – metade da humanidade até 2030, segundo dados da Organização das Nações Unidas. Isso aumenta a importância do desenvolvimento sustentável e eficiente destes centros urbanos, mas a tarefa é complexa.

A lista de desafios que podem ser enfrentados com dados e tecnologia é extensa e inclui áreas como transporte, habitação e manutenção de espaços públicos até geração de empregos, segurança pública e gestão ambiental. Tais abordagens também permitem que cidadãos fiscalizem e contribuam com a melhoria da gestão dos recursos públicos. Grandes empresas de tecnologia transformaram a revolução do sistema nervoso de cidades com dados em negócio e a abordagem está cada vez mais presente no discurso de líderes políticos.

Londres celebrou nesta quarta-feira (8) o décimo aniversário da London Datastore, o primeiro depósito de dados abertos no mundo, que disponibiliza enormes quantidades de informação sobre a cidade, com mais de 6 mil datasets. Na última década, a iniciativa evoluiu e se tornou um hub de colaboração e inovação, com 60.000 usuários mensais.

O prefeito da capital londrina, Sadiq Khan, é um entusiasta do conceito de smart cities. Evidência disso é a contratação do primeiro chief digital officer da cidade em 2017 e o lançamento de um plano de ação em 2018 para aprimorar o uso de tecnologia para resolver os problemas da cidade, em áreas como trânsito e gestão ambiental. Nesta semana, Khan anunciou planos de sofisticar a estratégia.

“O compartilhamento de dados do setor público de forma responsável nos ajuda a resolver alguns dos desafios mais urgentes da cidade à medida em que ela cresce”, aponta o prefeito. “O próximo passo é criar uma abordagem compartilhada para que todos possam se beneficiar da inovação que isso pode trazer.” A ideia é aumentar o escopo da London Datastore e melhorar a ingestão, tratamento e usabilidade dos dados para que organizações ditas tradicionais (e não só startups de tecnologia, desenvolvedores independentes e a própria prefeitura) utilizem mais este recurso.

Exemplos de como Londres têm usado dados abertos para tornar a gestão pública mais eficiente e beneficiar os habitantes da cidade incluem o Cultural Infrastructure Map, que detalha os diversos recursos culturais em bairros da cidade, como casas de espetáculo, estúdios e centros comunitários. Também foi criado o London Rents Map, um mapa de aluguéis da cidade (que está entre os centros urbanos de custo de vida mais alto no mundo) que a prefeitura diz ter sido acessado por 85.000 pessoas procurando um lar mais acessível em 2019.

Outras ferramentas criadas com base nos dados abertos de órgãos públicos londrinos e consolidados na Datastore incluem diversas ferramentas de monitoramento da qualidade do ar. Os dados vêm de diversas fontes, como drones que fornecem informações em tempo real, e sensores que indicam níveis de poluição. Estes dados ajudam a cidade a definir, por exemplo, se mais ônibus elétricos precisam ser direcionados para regiões com qualidade de ar mais baixa.

Gerando negócios com dados abertos

A capital da Finlândia, Helsinque, também atua sistematicamente para facilitar o acesso à informação pública para uso no setor privado e gerar negócios em torno do conceito de smart cities.

A cidade, que há mais de 100 anos financia bureaus e agências estatísticas para registrar informações sobre todos os aspectos da cidade, evoluiu sua abordagem na última década para se tornar um modelo em dados abertos. Os datasets são utilizados tanto para permitir transparência na administração pública quanto para criar novas práticas digitais e apresentar oportunidades aos desenvolvedores de software encarregados de projetar novos produtos de consumo.

Batizado de Helsinki Region Infoshare (HRI), o serviço de open data oferece informações gratuitas relacionados à cidade e aos municípios vizinhos. Os dados podem ser utilizados por cidadãos, desenvolvedores, repórteres, empresas, universidades, escolas e institutos de pesquisa, bem como por tomadores de decisão e funcionários municipais.

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