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Brasília, 60 anos: quem são os brasilienses; assista a vídeos

Como as formas de pronunciar e entonação do brasiliense já permitem que outras pessoas, que não vivem em Brasília, consigam identificar o sotaque de quem é da Capital Federal, segundo Newton, agora resta apenas saber se permanecerá apenas uma ou mais formas de falar. “Daqui a umas duas gerações, a gente vai começar a entender se já existe um único sotaque tipicamente do Distrito Federal ou se a desigualdade social entre essas regiões é tanta que cada uma está começando a ter o seu próprio falar”, conclui.

Pratos típicos

Quem gosta de viajar geralmente também busca os diferentes sabores dos lugares que visita, mas quem chega em Brasília, encontra um prato típico da Capital Federal? Para o professor de gastronomia Marcos Lélis esse prato ainda não foi criado, e talvez nem seja.

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Marcos explica que, hoje, a característica da mesa de Brasília é reunir os diferentes sabores que existem no Brasil e no mundo.“Brasília contempla tudo que ela quiser, que ela pode contemplar, se ela quiser. De restaurante temático, às festas das embaixadas. Por exemplo, a embaixada da Índia abre as portas e o que, que eles fazem? Comida. Da Espanha, a mesma coisa. Tailândia, a mesma coisa. Os CTGS gaúchos, a mesma coisa. O pequi que floresce aqui, também vira comida”, diz.

A leitura que cada um faz sobre o que é um prato típico também é importante para entender se Brasília já produz uma culinária com identidade própria, segundo Marcos. “Como Brasília está geopoliticamente localizada dentro de Goiás, a gente pode pensar que a cozinha brasiliense é uma cozinha goiana. Também podemos pensar que ela é composta por um tripé nordestino, mineiro e goiano, que são a maioria dos imigrantes que chegaram aqui, mas que têm características distintas”, diz.

A auxiliar administrativa Danielle Paiva, que nasceu no Rio de Janeiro e vive em Brasília desde pequena, acredita que a galinha preparada com o pequi, fruto do Cerrado, já pode ser considerado um prato típico de Brasília. “É de Goiás, mas a gente aderiu”, diz.

Para Marcos, o que torna um prato típico vai além de ser consumido naquele lugar, é uma conjunção de fatores. “Porque que a feijoada é um prato nacional? Por que todo mundo consegue ter acesso a todos esses cortes, diferente do tacacá nortista, que nem todo mundo tem acesso ao tucupi, apesar da mandioca ser plantada no país inteiro”, explica.

Além da disponibilidade dos ingredientes, da receita ser acessível a grande parte da população local e das pessoas consumirem aquele prato, a construção de um prato típico também é um processo histórico e cultural que leva muito tempo. Para Marcos, seis décadas ainda é pouco para observar esse processo. “É injusto comparar com qualquer outro estado do Brasil”, diz.

Com tantas possibilidades para a culinária brasiliense, o surgimento de um prato típico é incerto, mas os ingredientes locais já são amplamente consumidos em Brasília, e esse consumo pode ser um primeiro passo para a consolidação de uma comida regional. “A gente tem uma identidade que precisa se valorizar, se supervalorizar, para depois achar o equilíbrio. A própria cozinha regional brasileira está recebendo uma série de holofotes hoje Brasília deveria também ter isso. Deveria valorizar os produtos que são locais, valorizar, nem que seja, esse tripé de formação gastronômica, para daí criar alguma coisa, que seja nosso”.

Gerações

Foram necessários quase 60 anos para que, finalmente, o “planalto interior, centro geográfico do país, deserto”, como citou Juscelino Kubitschek no discurso de inauguração de Brasília, passasse a ter, na sua maioria, filhos da Capital Federal. O economista da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Juçânio Umbelinio de Souza, explica que passaram três gerações para que isso acontecesse.

Atualmente, a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (2018) aponta que pouco mais que 1,5 milhão de residentes são naturais do Distrito Federal e eles representam 55% da população. Eu poderia me colocar como um exemplo, nascido aqui em Brasília no mês da inauguração, eu já tenho netos”, diz.

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Ao longo dessas seis décadas, o comum era ver pessoas de diferentes lugares pela cidade, com diferentes culturas, sotaques e identidades, como a família dos pais da professora de ensino Waldorf, Vanessa Dias Madeira. “A minha avó, por parte de mãe, é cuiabana e o meu avô, o pai da minha mãe é português. A minha avó paterna é carioca e o meu avô é paulista. Então, sempre tive uma mistura bem forte, né? E eles tiveram os seus filhos aqui em Brasília, nasceram todos aqui em Brasília, e eu também nasci aqui”.

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