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Brasília, 60 anos: quem são os brasilienses; assista a vídeos

Gerações Brasília

Família Madeira adotou Brasília para viver. “Acho que Brasília tem um poder de atração muito grande”. Foto: Reprodução

Segunda geração de brasiliense, ela lembra que era exceção entre os amigos, que na maioria tinham pais nascidos em outros estados, mas já percebe um aumento dessa população entre as crianças que convivem com seus dois filhos, Manuela e Otto, também nascidos em Brasília.

André Luiz Madeira, pai de Vanessa, conta que os pais se conheceram já em Brasília e que todos chegaram na cidade por causa de trabalho na construção da nova capital “Era o grande acontecimento da época e muito carente de mão de obra aí todo mundo veio para cá”.

E foi pela força de trabalho que tantos outros chegaram, mas não foi apenas o trabalho que fez com que ficassem, segundo Juçânio. “A perspectiva era de que finalizada essa etapa de construção da Brasília central, esses trabalhadores retornassem para os seus estados de origem, o que realmente não aconteceu. Acho que Brasília tem um poder de atração muito grande e os trabalhadores se encantaram com a região central, o céu azul, conhecido como o céu de brigadeiro e, realmente, Brasília encanta”, conclui.

As gírias, véi…

Como a própria língua portuguesa, as gírias também são vivas e mudam com o passar do tempo; e em 60 anos, as gerações de Brasília já usaram muitas delas, mas quais são genuínas da capital federal? Segundo o professor e sociolinguista Newton Lima Neto, mais importante que saber se nasceram aqui, ou vieram de outro lugar, é entender se há consistência no uso delas.

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“A gente dificilmente chegará a uma resposta se “véi” é uma gíria tipicamente brasiliense. Você pode ir no interior de São Paulo e encontrar também essa gíria, mas como que ela é falada lá? Em Brasília, você altera a entonação e você pode mudar completamente o sentido da frase”, explica. 

As gírias são palavras que ganham novos sentidos entre um grupo de pessoas. Segundo Newton, elas fazem parte do dialeto, que inclui sotaque, ritmo e palavras.Algumas surgem em função de comportamentos, lugares e até características arquitetônicas de uma cidade. “Na parte central de Brasília, no Plano Piloto, vários termos têm entrado na fala do jovem, como tesourinha, fazer um balão, ou então, brincar debaixo do bloco, não necessariamente isso é a verdade em outros estados, outras cidades”, explica.

Professor de Linguística

Professor de Linguística explica que as gírias estão presentes em todos os idiomas e dialetos

 

Muitas gírias são lançadas entre grupos de pessoas que vivem em uma cidade, mas nem todas vão realmente compor o repertório de expressões daquele lugar. Newton lembra do exemplo da gíria “camelo” empregada para identificar a bicicleta, que ganhou fama em música da banda Legião Urbana. “Talvez aquele pequeno grupo de jovens usava camelo, mas um deles ficou famoso. Então, a gente não pode atribuir necessariamente camelo como uma expressão tipicamente brasiliense, porque se você escuta a fala dos jovens hoje, quem é que está usando isso?”, diz.

Assim como o sotaque, as gírias contam partes da história e constituem uma importante ferramenta na construção cultural de Brasília. “Se uma comunidade está escolhendo determinadas expressões para compor o seu repertório linguístico, isso aponta, sim, para uma constituição de identidade”, diz Newton.

Cidade planejada

Mesmo sonhada e planejada antes de ser construída, nem criadores e arquitetos de Brasília poderiam imaginar como a vida funcionaria na cidade. Quadras, blocos, setores tesourinhas e grandes vias parecem simples e “de fácil apreensão”, nas palavras de Lúcio Costa, apresentadas no projeto vencedor para a construção de Brasília; mas na prática são mesmo soluções claras para que a cidade flua melhor?

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Para o estudante de arquitetura Tomas dos Santos, que nasceu em Planaltina, Goiás, e vive em Brasília é tudo muito fácil. “Para quem não tem o costume talvez seja mais difícil. Eu costumo ver o povo falar muito das tesourinhas. Tem gente que faz até piada de que a pessoa entra lá e se perde, mas para a gente é mais fácil”, diz.

As tesourinhas, acessos circulares às vias expressas, eliminam cruzamentos e tornam o trânsito mais fluido, mas causam estranhamento a quem chega de outras cidades onde o uso dessa solução é inexistente. “Não entendo as tesourinhas ainda e acho que vai ser difícil entender”, diz a perita Bárbara Coloniese, que é de Florianópolis e mora em Brasília desde novembro de 2019.

Bárbara conta que viveu na cidade por dois anos anteriormente e recorda que na época o endereço também causava estranheza nos parentes que queriam enviar alguma encomenda. “Eles perguntavam: mas como é o nome da rua? como assim? vai achar você nesse monte de letra?”.

Entendendo ou não a cidade, o IBGE estima que vivem em todo o Distrito Federal mais de 3 milhões de pessoas segundo levantamento de 2019. Cerca de 45% nasceu em outros estados, mas escolheu morar em uma cidade planejada e com soluções não tão comuns, mas que fazem com que essa população cresça cada vez mais.

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan), Saulo Diniz, explica que essas soluções urbanísticas, somadas aos monumentos e a ideia de organizar a cidade na forma de um avião fazem de Brasília uma cidade única, reconhecida há mais de 30 anos como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco, e Patrimônio Histórico Artístico Nacional. “Há 60 anos as pessoas quando viam o esboço no papel já se espantavam por ser um avião, e esse avião está voando até hoje e vai voar muito mais, então, a gente tem que realmente preservar essa maravilha que é Brasília”, conclui.

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