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Setor de frutas gera riqueza no Nordeste, mas pouco fica com o trabalhador

Distinção de gênero

A apresentação dos representantes da Tesco, Edgar Monge, e da Unilever, Rodolpho Simas, permitiu maior compreensão quanto às políticas internas das empresas. As duas companhias são gigantes mundiais, e registraram no encontro parte de suas metodologias de auditoria e checagem de certificações dentro da cadeia de abastecimento, levantando novos debates.

Monge falou sobre as práticas da rede voltadas à melhora das condições laborais, como a não-permissão de horas excessivas de trabalho e banimento do trabalho infantil. Em países como o México, disse que um ponto sensível é a discriminação por gênero – identificada pela rede em importantes fornecedores no Brasil também. Ao ressaltar a premissa de que a lei local precisa ser cumprida, Monge fez a ressalva de que, em muitos casos, “infelizmente a lei local não protege, por isso o código ética tem de ser respeitado”.

Um dos pontos de maior discussão do dia foi a explanação de Edgar Monge sobre a não obrigatoriedade de diálogo, durante as auditorias, com delegados sindicais. Segundo ele, a Tesco incentiva a formação de comitês de trabalhadores para acompanhar as diligências sem que haja, necessariamente, afiliação sindical.

“É importante ver como avaliar de forma bem rígida os auditores. Tem auditores com 15, 20 anos que trabalham bem, e outros com esse tempo todo trabalhando mal. É importante que a gente entenda a necessidade de uma avaliação interna. Lamento muito que tive de visitar lugares depois de auditorias e me deparei com situações de não-conformidade, coisa que não foi detectada pela auditoria. Muitas das empresas aceitam a desculpa da legislação local”, comentou Monge.

O seminário apontou alguns encaminhamentos nesse campo, como o reforço à empregabilidade das mulheres (que estão mais suscetíveis a contratos de safristas), além de uma maior proximidade e participação dos sindicatos nas auditorias.

O representante do STTR Petrolina, Daniel Saldanha, reforçou a importância de o sindicato ser considerado como o espaço central de representação e diálogo. “Em Petrolina, já tinha repercutido esse relatório (da Oxfam). Acreditamos que vai ser favorável para negociação neste momento”.

Guinada política

Os presentes no seminário destacaram, ainda, que a guinada política vivenciada pelo Brasil nos últimos anos “arrebentou” os trabalhadores – e não resolveu situação dos empresários. José Manoel, o Zezinho do STTR Juazeiro, traçou o registro histórico recente nesse sentido.

“Primeiro, o impeachment da Dilma, isso refletindo na sociedade, e achava que depois disso o processo de desmonte do Temer se reverteria nas eleições, mas o que se configurou foi pior, com o Bolsonaro. Vimos na nossa região os empresários apoiando o Bolsonaro, foi uma loucura. Como agora vamos resolver nossos problemas e nos unir com esses caras que pressionaram os trabalhadores para votar no Bolsonaro? Todas as falas do Bolsonaro eram de acabar com os direitos dos trabalhadores. Para a gente, era uma situação bastante temerosa, por isso esse relatório abriu uma porta muito larga de empoderamento e encorajamento”.

Zezinho celebrou o fato de o encontro promover o “contato com atores como Unilever e Tesco, que estão numa posição bastante estratégica, no meio do processo da compra do produto”. Disse ele: “Se confirmou pra gente que existem realmente as exigências. O consumidor na ponta exige que tenha responsabilidade social e ambiental”.

Para o sindicalista, os trabalhadores devem explorar melhor os canais de denúncias e certificações, o que pode resultar em avanços por melhores condições de trabalho. “Vimos a rigidez do comprador e do consumidor final. Temos que selecionar algumas empresas mais problemáticas e usar os canais de denúncia. Sei que vamos sofrer retaliações”.

Certificação em foco

A importância de se compreender e acompanhar melhor o trabalho das certificadoras também esteve em pauta. “Discutir a certificação é muito importante. A gente sai com a expectativa do que vai fazer em nossas regiões. Cheguei aqui sem perspectiva, sem lenço, sem documento, e saí daqui com tudo, com RG”, celebrou Daniel Saldanha, de Petrolina.

Francisco Joseraldo Medeiros do Vale, da Fetarn, a federação sindical do Rio Grande do Norte, trouxe avaliação semelhante. Para Joseraldo, essa aproximação passa por capacitação – inclusive contratada, junto às certificadoras. “Precisamos chamá-los para fazer essa capacitação. E não é um favor”. O sindicalista ressaltou que a realidade do campo hoje é de trabalhadores que têm entre dois e quatro filhos, casados, e que tiram apenas um salário mínimo em seus empregos. Para Joseraldo, isso permite apenas sobreviver – e o movimento sindical precisa ir além.

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