Política

Pragmático ou idealista ao investir? Um mercado de US$ 500 bi promete combinar os dois

NOVA YORK – Gestores de fundos e investidores estão acostumados a analisar os números da Bolsa, da economia e das empresas antes de decidir onde aplicar, mas eles também prestam cada vez mais atenção a outros tipos de dados.

A temperatura do planeta é um deles. Os índices de pobreza em países em desenvolvimento é outro, junto com acesso à água, qualidade do ensino, consumo responsável, igualdade de gênero… a lista é longa, e ela representa um dos segmentos que mais crescem no mundo dos investimentos hoje em dia.

Essa nova categoria é conhecida como investimento de impacto, e também pelas siglas em inglês ESG (ambiente, social e governança) ou SRI (investimento socialmente responsável).

Essencialmente, trata-se de investimentos – diretamente ou por meio de fundos – em empresas e instituições que medem seu sucesso não só no balanço, mas também no impacto social de suas atividades-fim.

Os investimentos em ESG representam 26% dos recursos sob gestão nos Estados Unidos, um aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2016, de acordo com a organização Forum for Sustainable and Responsible Investment.

Globalmente, estima-se que o mercado seja de US$ 500 bilhões, um número que decuplicou nos últimos cinco anos, de acordo com a Global Impact Investing Network (Giin), rede que reúne gestores desse tipo de fundos do mundo todo.

Num relatório recente, o Bank of America incluiu o “capitalismo moral” como um dos dez principais temas do mundo dos investimentos na próxima década. E uma pesquisa recente do Morgan Stanley Institute for Sustainable Investing indicou que 85% dos investidores individuais americanos estão de olho na tendência.

“Os esforços para coibir o aquecimento global exigirão mudanças comportamentais e sistêmicas, que oferecerão oportunidades substanciais para os investidores”, escreveu o autor principal do relatório, Haim Israel.

O Bank of America estima que US$ 20 trilhões serão destinados a estratégias que lidem com desafios ambientais, sociais e de governança nas duas próximas décadas – especialmente quando se leva em conta a ascensão dos millennials e da geração Z como investidores.

“Investimento de impacto não é algo necessariamente novo, mas é um estilo que vem crescendo tanto em tamanho quanto em evidência”, diz em entrevista ao InfoMoney Patrick Scheurle.

De fato, tentar aliar responsabilidade social e retorno financeiro é algo que se faz há muito tempo, como os fundos que evitam ações de empresas de bebidas alcoólicas e de cigarros, por exemplo. Mas, hoje, a ideia é ir além desse tipo de triagem passiva, buscando ativamente companhias que tenham uma missão transformadora.

A Royal Exchange, seguradora mais antiga da Nigéria, foi uma das companhias que receberam investimento do braço de private equity do BlueOrchard, que tem 3,5 bilhões de dólares em ativos e foi recentemente adquirido pela britânica Schroders.

“Existe um mercado enorme no país para seguros relacionados ao clima. Mais de 40 milhões de nigerianos dependem da agricultura. Nosso investimento ajuda a empresa a aumentar seu portfólio de seguros relacionados ao clima e também aumentar a proteção contra eventos da mudança climática na Nigéria”, afirma Scheurle.

Outro exemplo típico de um investimento de impacto é o aporte de US$ 1 milhão da The David and Lucile Packard Foundation na Ecotrust Forests, um fundo de equity que já investiu mais de US$ 30 milhões na exploração sustentável de áreas florestais privadas do noroeste dos Estados Unidos.

A Ecotrusts Forest gera retornos com a venda de madeira e de créditos de carbono, sempre levando em conta a sustentabilidade do ecossistema local.

A ONG americana As You Sow, que tem como missão defender os direitos de acionistas, avalia papéis e fundos do ângulo do impacto social e ambiental. Um dos recortes oferecidos pela As You Sow é a igualdade de gênero.

A ferramenta da As You Sow, desenvolvida em parceria com a holandesa Equileap, analisa 19 critérios para identificar as companhias que estejam “ajudando a construir um mundo mais igualitário e que ofereçam às mulheres as chances de obter sucesso profissional, sem sacrificar os retornos [financeiros].”

Mas dá dinheiro?

Por melhores que sejam as intenções, entretanto, obter medidas exatas do impacto real desses investimentos é uma tarefa muito complicada.

O impacto de um sistema de microfinanciamento é muito diferente em Bangladesh e no Brasil. Como comparar o real efeito de uma startup que quer reduzir o uso de plásticos com medidas sustentáveis tomadas por uma companhia do tamanho de uma Unilever?

Igualmente, do ponto de vista do retorno financeiro, é difícil afirmar categoricamente se o investimento de impacto é um bom negócio. Essa modalidade pode tomar várias formas (dos fundos de venture capital e private equity a ações individuais ou fundos mútuos), e as companhias têm os mais variados tamanhos e estágios de maturação.

Tampouco existem definições precisas do que seja um investimento de impacto. Segundo uma reportagem recente do The Wall Street Journal, oito dos dez maiores fundos sustentáveis dos Estados Unidos incluíam pelo menos uma ação de empresas do setor de petróleo ou gás natural.

Existem alguns resultados positivos. O fundo Vanguard ETF ESG registrava alta de 27% no ano até meados de novembro, uma performance dois pontos percentuais acima do desempenho de um fundo que acompanha o índice S&P 500.

O fundo Impact Shares YWCA Women’s Empowerment, concentrado em empresas comprometidas com o empoderamento feminino e a igualdade de gêneros, registrava alta parecida, de 26% no ano.

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Fonte: Infomoney Blog Epolitica

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