Economia

Ibovespa cai até 9,5% após Sergio Moro pedir demissão; dólar dispara 3% e supera R$ 5,70

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SÃO PAULO – O Ibovespa chegou a cair 9,5% nesta sexta-feira (24), se aproximando de acionar o circuit breaker, após o ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciar sua demissão da pasta. Após bastante volatilidade, porém, o índice passou a negociar com perdas na casa de 7%.

A decisão foi tomada após Moro ser surpreendido pela publicação no Diário Oficial de hoje da demissão, pelo presidente Jair Bolsonaro, do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que é pessoa de confiança do ministro.

Em coletiva, Moro disse que foi pego de surpresa pela exoneração de Valeixo e que não assinou o documento da saída. Ele afirmou ainda que não se opunha à troca, mas que era preciso haver uma razão clara para isso.

“Eu não tenho nenhum problema em troca do diretor, mas eu preciso de uma causa, [como, por exemplo], um erro grave”, disse Moro. Além disso, o ministro disse que não poderia seguir no cargo diante de uma interferência política na autonomia da PF.

Moro ressaltou que Bolsonaro queria “colher” informações dentro da PF, como relatórios de inteligência. “O presidente me disse que queria colocar uma pessoa dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência. Realmente, não é papel da PF prestar esse tipo de informação”, disse. “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”, afirmou ainda o ministro.

Às 13h30 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira registrava queda de 7,74%, aos 73.509 pontos. O mercado se mostra bastante volátil, com o índice variando entre perdas de 7% a 9% em poucos minutos.

Enquanto isso, o dólar comercial salta 3,26%, cotado a R$ 5,7072 na compra e R$ 5,7082 na venda, chegando a R$ 5,71 na máxima do dia. O dólar futuro para maio, por sua vez, avança 3,52%, a R$ 5,734.

Segundo Renato Ometto, gestor de renda variável da Mauá Capital, a saída de Moro “é obviamente ruim” e o tom duro usado pelo ministro na coletiva gera uma preocupação maior sobre o futuro do governo.

“Isso gera um índice de desconfiança no prosseguimento do governo. Num momento crítico da economia, com desemprego e os números de Covid-19, acaba atrapalhando ainda mais um pouco e coloca mais um nível de incerteza de como esse governo continua”, explica o gestor.

“Para ativos de Bolsa, não dá para dizer que não vai haver impacto financeiro, mas por enquanto a trapalhada toda fica em torno da melhora da economia e a volta de dados melhores. O que põe em curso é que, se o governo está batendo a cabeça, as ações [medidas econômicas, como as reformas] ficam cada vez mais difíceis de serem viabilizadas e isso põe um gelo na recuperação [da economia], que já seria uma recuperação difícil”, conclui ele.

Já para Carlos Menezes, gestor de portfólio da Gauss Capital, a saída de Moro aumenta a chance de, em caso de novo estresse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também saia do governo. Guedes tinha uma live nesta manhã com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, mas cancelou em meio ao aumento da tensão, o que piorou o humor do mercado.

Em entrevista para a Bloomberg, Menezes avalia que o mercado vê uma potencial piora da popularidade de Bolsonaro com a demissão de Moro, o que poderia afetar as reformas. “Além de ficar claro que ele acaba não preservando os ministros base, que são Moro e Paulo Guedes”, disse.

O pânico também afeta o mercado de juros futuros, com o DI para janeiro de 2022 saltando 82 pontos-base, a 4,37%, enquanto o DI para janeiro de 2023 tem alta de 93 pontos, para 5,67%. O contrato para janeiro de 2025 avança 105 pontos-base a 7,44%.

Pandemia avança no Brasil

O Brasil bateu ontem seu recorde de mortes diárias pelo coronavírus, com 407 óbitos – metade no Estado de São Paulo – em 24 horas. Até ontem, o máximo de mortes diárias era de 207. O total de mortes confirmadas é de 3.313 na manhã de hoje. O número de casos confirmados ultrapassa 49 mil.

Os dados chegam no momento em que os governos estaduais começam a abrandar as quarentenas, ou se preparam para isso. Ontem houve a reabertura do comércio no Estado de Santa Catarina, embora em São Paulo o final da quarentena esteja marcado para 11 de maio. A decisão ainda pode ser revista pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

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