Política

Crise Irã-EUA: Quais os impactos políticos da morte de Qassem Soleimani?

Especialistas, porém, avaliam que é cedo fazer projeções sobre os desdobramentos do acontecimento, mas chamam atenção para uma série de variáveis a serem monitoradas ao longo das próximas horas e dias. Possíveis retaliações são esperadas, tendo em vista a importância da figura de Soleimani para os iranianos e o significado político do ataque.

Na avaliação do professor José Maria de Souza Júnior, coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, o ataque faz parte de uma sequência de eventos que tem como início a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, a adoção de uma postura mais agressiva do presidente Donald Trump com relação ao país persa e um acirramento na disputa por influência sobre o Iraque, sobretudo após o enfraquecimento do Estado Islâmico sobre o território.

Para ele, a tendência é que a resposta iraniana se dê de forma indireta e possivelmente relacionada com a disputa por influência no Iraque. “O Iraque vai continuar sendo palco desta disputa. E se o Irã tiver alguma manifestação mais contundente, vai ser através desses subterfúgios. Milícias, influências sobre algumas lideranças etc.”, diz.

Já Rudzit acredita que, embora seja difícil fazer previsões a respeito, o ataque abriu caminho para um outro tipo de ação por parte dos iranianos. “Não se pode descartar uma tentativa de assassinato de general de alta patente americano. A barreira foi quebrada. Soleimani estava no Iraque, ele sabia que Bagdá tem espiões americanos. O governo americano podia ter matado em outras ocasiões, mas seria ultrapassar uma linha que abre a possibilidade de o Irã fazer o mesmo. Isso está aberto. O assassinato de uma figura alta americana é possível”.

O especialista classifica a decisão de Trump de autorizar o ataque contra a liderança iraniana como “precipitada” e vê fatores domésticos como determinantes para a posição. Envolvido em um processo de impeachment em tramitação no Senado e às vésperas das eleições presidenciais, o presidente americano buscou um elemento de política externa para usar internamente, sobretudo diante das dificuldades enfrentadas neste campo.

“A grande questão que fica é como e quando o Irã irá retaliar, mas principalmente se vai ser só uma retaliação ou se agora haverá um processo de embate mais aberto e indireto entre os dois países. Ninguém sabe. Todo mundo foi pego de surpresa”, pontua Rudzit.

Em termos regionais, as atenções também se voltam às reações de outros atores, como Israel, Arábia Saudita e Rússia. Para o especialista, apesar de o nível de tensão ter crescido, os riscos de um confronto aberto ainda são limitados, sobretudo pela falta de interessados neste desfecho, embora as nuvens de incertezas não permitam conclusões nesse sentido.

“Em um momento de tensão tão grande quanto esse, o risco de escalada aumentou. Mas não vejo como interesse de nenhuma das partes. Não há interesse de ninguém de um conflito na região. Não vejo uma escalada nessa direção, mas mal entendidos acontecem”, conclui.

Riscos econômicos

Logo agora que a economia mundial estava se estabilizando após seu pior desempenho em uma década, o ataque americano contra o regime iraniano um lembrete de como a perspectiva permanece frágil.

O acordo comercial provisório entre os EUA e a China havia ampliado as expectativas de que o crescimento global começaria a se recuperar este ano. A confiança nos negócios vem melhorando lentamente à medida que os principais indicadores da indústria mostram sinais de retomada.

Agora, a tensão entre os EUA e o Irã pode afetar qualquer sentimento positivo. Uma alta sustentada dos preços do petróleo prejudicaria economias que dependem de importações de energia e pesaria sobre a demanda do consumidor.

“Logo agora que o mercado começou a ficar aliviado com o risco de escalada da guerra comercial, outro evento de risco aparece aparentemente do nada”, disse Wellian Wiranto, economista da Oversea-Chinese Banking Corp. em Cingapura.

Muito dependerá do comportamento dos preços do petróleo. Uma alta forte da commodity teria um impacto negativo significativo nas economias além do Oriente Médio.

Custos mais altos de energia impactam as economias de diferentes maneiras. Os países importadores líquidos de energia verão a renda e os gastos das famílias prejudicados, e a inflação poderá acelerar. Como maior importador mundial de petróleo, a China é vulnerável; muitos países europeus também dependem de energia importada.

Deixe um comentário