Economia

Vale: o que os analistas esperam para a ação da mineradora um ano após a tragédia de Brumadinho?

Para Fontoura, a queda do minério acontecerá – mas não com a velocidade que o mercado antecipou. Aliás, o minério com 62% de pureza negociado em Qingdao está na casa de US$ 94 barris a tonelada, mostrando maior resiliência. Desta forma, há potencial de que os lucros da companhia surpreendam o consenso de mercado, também com o ambiente de retomada com volumes mais fortes de vendas, o que deve ajudar na diluição de custos e tornar as margens mais saudáveis.

Ano da redenção?

Em relatório recente, o Bradesco BBI reiterou a Vale como top pick do setor e classificou a companhia como “uma subestimada máquina de fazer dinheiro em modo de diminuição de riscos”, possuindo preço-alvo de R$ 87 para suas ações, ou um potencial de valorização de 57%.

De acordo com o banco, 2020 pode ser o “ano da redenção da companhia”, destacando sete temas para ela: i) as fases finais da negociação relacionadas a Brumadinho; ii) a perspectiva de altos dividendos; iii) a surpresa com o mercado mais apertado para o minério de ferro (como já destacado acima); iv) o crescimento da produção e os menores custos; v) a venda de ativos, caso da já citada Moatize e também a VNC (Vale Nova Caledônia), produtora de níquel e cobalto; vi) a evolução nas práticas de ESG e vii) o fim do acordo de acionistas.

Thiago Lofiego e Isabella Vasconcelos, analistas do banco, destacam que o múltiplo entre o valor de mercado (EV) e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) para 2020 é estimado em 4,6 vezes, desconto de 20% a 25% ante o nível em que as ações de seus pares australianos Rio Tinto e BHP são negociadas. A avaliação é de que o desconto deveria ser de cerca de 5%.

Os analistas apontam serem baixas as possibilidades de uma nova provisão em patamares substanciais para lidar com os acordo e indenizações de Brumadinho: o montante de US$ 6 bilhões reservados, sendo US$ 4 bilhões para indenizações e US$ 2 bilhões para o descomissionamento das barragens, é apontado como suficiente.

Com este episódio sendo resolvido pelo menos em termos de provisões, a Vale pode retomar a sua política de dividendos ainda no primeiro semestre, avaliam Lofiego e Isabella, podendo pagar entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões ao longo do ano, representando um dividend yield (indicador calculado pelo dividendo pago por ação dividido pela cotação do papel) entre 8% e 10%, considerado bastante atrativo.

Também incorporando preços mais altos para o minério de ferro, normalização da produção, alavancagem baixa (até de forma ineficiente, nas palavras de Fontoura, gestor da Persevera) e altos dividendos, o Credit Suisse e o Itaú BBA possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a mineradora.

O Credit aponta que o anúncio de R$ 7,25 bilhões em juros sobre o capital próprio feito pela companhia em dezembro referente ao ano de 2019, no Investor Day, aumenta a confiança de pagamento de dividendos ainda em 2020.  A empresa não informou quando o dinheiro será creditado, já que continua valendo a decisão de suspender os pagamentos de proventos após a tragédia.

Já com relação à normalização das operações, o próprio ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, apontou que a Vale deve recuperar a produção atingida antes do desastre.

A mineradora produziu um recorde de 385 milhões de toneladas de minério de ferro em 2018 e estava prestes a elevar a produção para cerca de 400 milhões no ano passado antes do rompimento de uma barragem de rejeitos em Brumadinho, Minas Gerais. Contudo, a tragédia levou a um escrutínio regulatório rígido, que levou a empresa a suspender operações com 93 milhões de toneladas de capacidade.

Algumas operações foram retomadas, mas 50 milhões de toneladas de capacidade permanecem interrompidas e devem ser reiniciadas até 2021. Esse deve ser um dos fatores a reduzir o preço do minério mas, conforme aponta Fontoura, para a Vale, é preferível ganhar através de maiores volumes do que com preços mais altos por conta de uma menor produção.

Riscos no radar

Apesar dos pontos positivos, ainda falta muito para que a Vale consiga superar o caso Brumadinho – em termos de reputação, por sinal, os danos podem ser irreparáveis até mesmo no longo prazo.

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