Economia

Um ano após a tragédia de Brumadinho, sustentabilidade ainda não é prioridade em alocações

Brumadinho provocou uma saída apenas temporária de investidores da Vale, que já foi mais do que recuperada. A posição que os fundos no Brasil detinham em papéis da mineradora passou de R$ 14,3 bilhões em janeiro de 2019 para os atuais R$ 17,4 bilhões, segundo os dados mais recentes da Economatica.

Grande parte dessas posições refletem produtos indexados (ou passivos), que são obrigados a seguir as composições de índices nos quais a Vale está inserida — ela só foi excluída do índice de sustentabilidade da B3 após Brumadinho.

Veja abaixo as cinco gestoras de fundos com as maiores posições em ações da Vale. Os dados são em R$ bilhão e vão até setembro de 2019, dado mais recente disponível.

Instituição Jan-19 Fev-19 Mar-19 Abr-19 Mai-19 Jun-19 Jul-19 Ago-19 Set-19
Caixa 1,781,315 1,842,278 1,985,327 1,937,797 1,891,453 1,975,916 1,884,857 2,219,492 2,322,078
Itau Unibanco SA 1,504,066 1,793,613 1,967,994 1,987,286 2,002,199 2,075,927 1,871,524 1,771,947 1,745,927
Bram Bradesco Asset Management SA Dtvm 1,334,077 1,390,469 1,593,364 1,590,495 1,663,769 1,725,667 1,548,264 1,398,244 1,550,369
BB Dtvm S.A 1,283,054 1,387,453 1,562,369 1,530,545 1,498,362 1,523,488 1,597,796 1,487,863 1,523,968
Santander Brasil Gestao de Recursos Ltda 672,718 656,002 763,684 720,945 739,584 850,581 881,873 841,180 937,354

Com mais de R$ 2 bilhões de alocação, a Caixa disse que as posições detidas no ativo são essencialmente passivas, ou seja, seguem o estabelecido na política de investimento dos fundos, tanto nos casos dos fundos que investem exclusivamente no ativo, como ocorre nos fundos mono ação, quanto nos casos dos fundos passivos que replicam a participação de VALE3 nos seus respectivos benchmarks.

“Dentre os fundos mono ação, destacamos também os fundos mútuos de privatização (FMP VALE I, FMP VALE II e FMP VALE MIGRAÇÃO), que representam aproximadamente R$ 1,04 bilhão da exposição total. Esses fundos foram originados devido ao processo de privatização da Vale S.A., quando os trabalhadores vinculados ao FGTS tiveram a oportunidade de utilizar seus saldos para aquisição de ações da companhia. Nesse sentido e diante do exposto acima, reforçamos que o volume alocado no ativo, embora possa ser considerado relevante, decorre fundamentalmente da característica dos fundos de investimento sob gestão.”

A gestora do BB também citou fundos passivos como responsáveis pela posição expressiva em Vale e disse que a preocupação com sustentabilidade é um dos pilares observados na avaliação de crédito e de ações de empresas.

“A gestora possui posições nos ativos relacionados em fundos indexados, uma vez que as ações da Vale ainda constam nos principais índices acionários do mercado de Bolsa brasileiro e em fundo mono ação. Em relação à avaliação da sustentabilidade no processo de gestão de recursos, desde novembro de 2010, a BB DTVM é signatária dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI), iniciativa de investidores globais apoiada pelas Nações Unidas”, diz.

“A BB DTVM aplica em seus processos de gestão práticas que favorecem a integração de temas ambientais, sociais e de governança corporativa (ASG) em suas análises e decisão de investimento. Ainda, participa do grupo de engajamento da rede brasileira do PRI, iniciativa que busca uma mudança no comportamento das empresas nas quais investe, indicando a importância da divulgação de informações sobre questões ambientais, sociais e de governança, a fim de melhorar a transparência sobre esses temas.”

A BB DTVM afirma ainda que “desenvolveu metodologia própria de avaliação de crédito e de ações de empresas, por meio da qual incorpora critérios de avaliação de ativos com base nos pilares de desempenho econômico-financeiro, governança corporativa e aspectos ambientais e sociais.”

Procurados pelo InfoMoney, Itaú, Bradesco e Santander não comentaram.

O perigo do Greenwashing

Investidor de empresas sustentáveis há mais de 30 anos, Fabio Alperowitch, da Fama Investimentos, alerta para o aumento do chamado greenwashing — termo utilizado para empresas que usam estratégia de marketing para passar uma ideia de que são sustentáveis, quando na verdade não são.

“A Vale tem gastado bilhões de reais após Brumadinho para desmontar barragens e pagar indenizações porque qualquer administrador sabe que um terceiro desastre ambiental pode ser o fim de qualquer empresa”, diz.

“É importante essa atitude. A Vale entendeu que se for vista como despreocupada com o meio ambiente, vai perder investidores. Mas isso não significa que ela passou a ser sustentável de uma hora para a outra. Da porta para dentro, ela segue com aberrações sob este ponto de vista.”

Deixe um comentário

×