Sem privatização no horizonte, BB anima analistas ao se credenciar como promessa de lucros altos em 2020
SÃO PAULO – Fechando a temporada de balanços dos grandes bancos de capital aberto, o Banco do Brasil (BBAS3) divulgou resultados que foram considerados positivos, apesar da queda das ações pós-balanço em meio à sessão de aversão ao risco.
O BB registrou um lucro líquido ajustado de R$ 4,625 bilhões no quarto trimestre de 2019, acima dos R$ 4,576 bilhões esperados (ou uma alta de 20,3% na base de comparação anual) e implicando em um Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) de 17%, reduzindo a diferença com seus concorrentes. No ano, o lucro foi de R$ 17,8 bilhões, alta de 32%.
O lucro foi principalmente derivado de melhores receitas, que vieram surpreendentemente altas no trimestre, conforme destaca a XP Investimentos, além das provisões, que continuaram a melhorar no trimestre, e os impostos, que caíram 56% no período.
“Por outro lado, o banco demonstra ter dificuldades de controlar custos e em crescer sua carteira de crédito”, destaca Marcel Campos, analista da XP Investimentos. Os gastos cresceram 8% anualmente para R$ 9,9 bilhões, puxado por despesas com pessoal, que cresceram 13% anualmente para R$ 5,5 bilhões.
Além disso, avalia, a carteira de crédito continua a desapontar, decrescendo 3% anualmente para R$ 621 bilhões, derivado principalmente de menores empréstimos corporativos.
Contudo, aponta o analista, o banco mostra mais uma vez que é capaz de melhorar sua rentabilidade mesmo em um cenário de declínio na carteira de crédito, devido a um melhor mix de crédito e menores despesas com custo de crédito.
No terceiro trimestre, o CEO do banco, Rubem Novaes, já havia sinalizado um maior foco na administração de recursos em paralelo a uma desaceleração nos créditos concedidos às grandes empresas, apontando ainda que a instituição estava mais conservadora no atacado e mais agressiva no segmento para pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas.
Além disso, a margem financeira continua apresentando melhora, uma vez que o banco se beneficia de um melhor mix com pessoas físicas e PMEs. A margem financeira cresceu 12% anualmente, para R$ 14 bilhões. As receitas com tarifas tiveram elevação de 6,4% em 2019, perto da média do guidance, que previa crescimento de 5 a 8%.
A queda de 56% dos impostos no ano também ajudou, uma vez que houve uma baixa de 56% anualmente para R$ 868 milhões. Parte disso ocorreu pela alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) que baixou de 20% para 15% em 2019. Porém, vale destacar, a taxa aumentará novamente em 2020, o que pode impactar os números da companhia (assim como de seus pares privados) durante este ano.
Se 2019 foi considerado um ano positivo, o guidance trazido pelo banco estatal também mostra que as projeções do banco para 2020 são animadoras.
Entre os pontos destacados pela XP, está a carteira de crédito, que deve começar a crescer e terminar o ano com uma balança entre 5.5 a 8.5% maior, o que também deve impulsionar margens entre 2 a 5%. O custo de crédito, por sua vez, deve manter controlado, com um fluxo máximo de R$ 13 bilhões, enquanto despesas devem se manter controlada com a inflação (entre 2,5% a 4,5% de crescimento). Por outro lado, receitas de serviço devem continuar desapontando com um tímido crescimento entre 1 e 4%.
Já o Credit Suisse pontua a previsão para o lucro líquido: o ponto médio mostra um crescimento de 9% em 2020. “Este patamar representaria uma das melhores performances entre os maiores bancos e também fica bastante alinhado com nossas projeções”, avalia a equipe de análise do banco suíço, visão esta reforçada pelo Itaú BBA.
Assim, a expectativa é de que o banco se aproxime cada vez mais dos seus pares do setor privado: em busca de maior eficiência e em um cenário de aumento da competição com as fintechs, a companhia fechou no ano passado 409 agências no país e reduziu seu quadro de funcionários em 3.699 colaboradores. Em 2019, o banco estatal registrou 2.364 adesões ao programa de demissão voluntária estabelecido pela instituição.
A companhia está se desfazendo de participações em companhias pouco relacionadas à sua atividade central, assim como buscar parceiros internacionais – como o UBS – na área de bancos de investimentos.