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Por que diferença de temperatura entre Atlântico e Pacífico aumentou inundações extremas do rio Amazonas

 

Os pesquisadores até agora não tinham uma visão clara de como essa mudança nas temperaturas do oceanos estavam afetando o ciclo de chuvas e inundações nos trópicos.

Mas o estudo conclui que o aumento das chuvas que causam as enchentes se deve à aceleração de uma corrente atmosférica chamada “circulação de Walker”, que conecta ambos os oceanos “como uma ponte atmosférica”.

“A circulação de Walker é uma corrente atmosférica (composta de ar e vapor d’água) tropical que vai de leste a oeste e se movimenta por causa das diferenças de temperatura e de pressão entre os oceanos”, explica.

“O Pacífico estava esfriando muito rapidamente e o Atlântico, esquentando muito rapidamente. Como há uma diferença maior de temperatura entre os dois oceanos, a circulação e o transporte do vapor de água entre eles ficam mais acelerados.”

“Na Amazônia, há uma zona onde este ar ascende e, como a circulação de ar se acelera, há mais convecção – ou seja, há mais chuva durante a estação chuvosa e os níveis dos rios sobem mais rápido”, afirma.

Para Manuel Gloor, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Leeds, na Inglaterra, e outro dos autores do estudo, o efeito desta aceleração da circulação de Walker é “aproximadamente o oposto do que ocorre durante um evento de El Niño”.

“Em vez de causar secas, há mais chuvas intensas na parte norte e na parte central da bacia amazônica”, disse à BBC News Mundo.

A ‘força extra’ do Atlântico
O oceano Pacífico tem oscilações naturais, com uma fase quente e outra fria que duram várias décadas. Atualmente estamos saindo de uma fase fria.

No entanto, os cientistas também descobriram um fenômeno surpreendente nesta complexa cadeia de eventos oceânicos e atmosféricos.

A diferença de temperatura entre Atlântico e Pacífico acelera o transporte de vapor de água para a atmosfera na Amazônia e causa mais chuvas (Foto: GETTY IMAGES/BBC)

 

Agora se sabe também que o Atlântico desempenhou um papel crucial no rápido esfriamento do Pacífico.

“Sabemos que o Atlântico teve esse papel central porque os modelos de clima indicam que ele fez com que o Pacífico esfriasse mais do que deveria apenas pela variabilidade natural”, diz Barichivich.

“É como uma força extra, e grande parte desse esfriamento do Pacífico se deve ao aquecimento do Atlântico.”

Por isso, outra das perguntas-chave para os climatologistas é: a que se deve o rápido aumento de temperatura no Atlântico?

Em parte, esse aumento se explica porque o oceano Atlântico “está em uma fase quente natural de várias décadas”, segundo o pesquisador chileno.

Além disso, diz ele, o Atlântico “recebe o impacto do aquecimento global”.

Aquecimento global e gases estufa têm efeitos diretos e indiretos sobre as chuvas amazônicas, que incluem até um 'portal entre os oceanos Atlântico e Índico' (Foto: JOCHEN SCHONGART/INPA/BBC)

 

Por um lado, a mudança climática impacta no Atlântico de forma direta, devido ao aumento da temperatura do oceano por efeito dos gases do efeito estufa. Mas há também um impacto indireto da mudança climática.

“Acreditamos que parte do aquecimento do Atlântico se deve à passagem das águas do oceano Índico, que também esquentou muito rapidamente.”

De acordo com Manuel Gloor, essa passagem se dá através de redemoinhos da corrente oceânica Agulhas, que transporta água quente do oceano Índico na direção sul até o extremo sul da África. Quando eles alcançam o oceano Atlântico, podem ser transportados até o Atlântico tropical.