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Omissão do Estado e impunidade: o que está por trás do massacre dos guajajara no Maranhão

‘Atitude irresponsável’

Entidades indígenas criticaram a justificativa da Funai de não agir, analisando as intimidações sem levar em conta o histórico de luta de Zezico na proteção das terras guajajara e a suspeita de confronto inclusive com indígenas cooptados por madeireiros.

Cerimônia de enterro de um dos caciques assassinados em dezembro; Raimundo e Firmino Guajajara foram mortos em uma emboscada, que deixou outros indígenas feridos (Foto: Mídia Índia)

“O Zezico era uma liderança aguerrida, que não concordava com as queimadas e a exploração madeireira e as combatia de forma intensa. Sabemos que ele era ameaçado por madeireiros”, afirma Gilderlan Rodrigues, coordenador regional do Cimi no Maranhão. Para ele, no entanto, a questão vai além de um conflito interno, já que madeireiros estão aliciando indígenas, tornando a situação mais arriscada. Dos 415 mil hectares da TI Arariboia, cerca de 35% já foram destruídos pelos madeireiros, de acordo com dados do conselho. 

Na opinião do ex-presidente da Funai, Marés, mesmo se fosse uma disputa puramente interna, isso não tira a responsabilidade da Funai. “É preciso ver o contexto. Porque foi assassinada uma liderança. Veja, uma liderança não é morta por coisa pouca, por um pé de couve”, diz.

Dois dias antes de ser assassinado, Zezico, que era professor da rede pública estadual,  assumiu o cargo de coordenador local da Cocalitia, a associação de caciques e líderes da TI Arariboia. Entre suas funções, ele ficaria responsável por implementar ações de proteção do território.

A Apib  (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), cuja coordenadora-executiva é Sônia Guajajara, classificou a atitude da Funai como “irresponsável”. “É lamentável que a Funai publique informações que buscam relacionar o assassinato de Zezico com conflitos internos do povo guajajara. Repudiamos veementemente esta publicação, que desconsidera o histórico de ameaças e viola a memória de Zezico”, diz a nota

Em 2014 e em 2018, o Ministério Público Federal já havia exigido da União medidas de segurança para a TI. “As reiteradas violações da terra indígena Araribóia causam um estado permanente de insegurança pública, gerando, inclusive, episódios de conflitos armados, que precisa ser desfeito urgentemente”, diz trecho de uma das ações, que não foi atendida. Após a morte de Paulino, o MPF voltou a propor uma ação para obrigar a União a tomar providências urgentes e reforçar a segurança e o monitoramento do local, mas a Justiça Federal rejeitou o pedido. 

Após o assassinato de Zezico, a Funai informou que a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão foram acionados. Procurado, o Ministério da Justiça não se pronunciou.

Rodrigues, do Cimi, espera que “haja apuração do crime, porque todos os outros assassinatos em Araribóia não foram elucidados”. A paralisia do poder público e a impunidade que alimentam o ciclo de mortes entre os guajajara eram, inclusive, uma preocupação do próprio Zezico, que afirmou em 2019 à Amazônia Real: “Ao longo desse período perdemos os guerreiros sem punições dos matadores. A Funai sabe toda a história, mas também sempre acobertou os casos. Assim, os madeireiros foram pegando fôlego, devido a não existir punições aos crimes.”

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Source: Reporter Brasil

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