Economia

Lula volta a criticar Campos Neto e reclama de juros cobrados por bancos públicos

Presidente Lula é entrevistado por Marcos Uchoa no programa Conversa com o Presidente, no Palácio do Alvorada (Reprodução/TV Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar, nesta terça-feira (27), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela condução da política monetária brasileira.

Na terceira edição da live semanal “Conversa com o Presidente”, transmitido em seu canal no YouTube e redes sociais, Lula disse que os juros cobrados por bancos públicos são muito altos, mas atribuiu a responsabilidade a Campos Neto.

“O Plano Safra será R$ 364 bilhões a uma média de 10% de juros ao ano. É caro. É muito caro. Esse juro poderia ser mais barato. Mas é que tem um cidadão no Banco Central, que a gente não sabe quem pôs ele lá, que faz o juro ser 13,75%”, disse.

“Nós vamos emprestar R$ 364 bilhões para os agricultores do agronegócio a 10% de juro. Amanhã vamos lançar o programa da agricultura familiar, me parece que são R$ 75 bilhões, a uma taxa de juros menor do que essa”, continuou.

As declarações são feitas uma semana após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidir, pela sétima reunião consecutiva, manter a taxa básica de juros (a Selic) em 13,75% ao ano. No comunicado, os diretores da autarquia não sinalizaram a possibilidade de um afrouxamento na política monetária a partir da próxima reunião.

Mas em ata divulgada nesta manhã, o colegiado avaliou que a continuidade da queda da inflação e seus impactos sobre as expectativas do mercado, pode possibilitar um corte na Selic no encontro de agosto.

O documento, por outro lado, acrescentou que alguns integrantes do comitê mostraram postura mais cautelosa, avaliando que a dinâmica dos preços ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto (isto é, a capacidade de a economia crescer sem gerar inflação) gera dúvidas sobre o impacto do aperto monetário em curso.

Durante a live nesta manhã, Lula também criticou o patamar elevado de juros cobrados para a concessão de crédito consignado, tendo em vista o risco mais reduzido de inadimplência do tomador junto à instituição credora, já que os pagamentos são feitos diretamente por desconto da folha de salário.

“O que me deixa indignado é o seguinte: o crédito consignado, que é dado para a pessoa que tem emprego garantido e é descontado no salário ‒ portanto não tem como perder ‒ é 1,97%. Dá quase 30% ao mês. Como é que o cara que ganha R$ 2 mil, que pega R$ 1 mil no crédito consignado vai pagar 30% ao ano, e eu estou emprestando dinheiro para os grandes a 10% ao ano? O deles também é caro ‒ quero deixar claro. Mas isso aqui é triplamente caro”, disse.

Lula afirmou, ainda, que pretende tratar do assunto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e os presidentes dos bancos. “Isso vou conversar com o Haddad e com os presidentes dos bancos, para saber como a gente está lesando o povo pobre nisso. A gente está dando como garantia a folha de pagamento e ainda pagamos mais caro do que paga o empresário pelo empréstimo? O cara vai no BNDES e pega empréstimo a 14% ao ano. É muito caro. É um roubo. Mas é metade do que paga o crédito consignado, que dá garantia. Esse aqui não tem como dar cano, porque desconta da folha”, alegou.

Atualmente, os teto de juros do empréstimo consignado para beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) está em 1,97% ao mês ‒ o que equivale a uma taxa de 26,37% ao ano, considerando a incidência dos juros compostos.

Leia mais em: Lula diz que fica ‘indignado’ com juros do consignado: ‘Está lesando o povo pobre’

Novo aceno ao campo

No programa, Lula também disse que seu governo criará uma espécie de carteira de terras improdutivas para a execução da reforma agrária.

“Por que a gente tem que esperar o movimento invadir uma terra para mandarmos o Incra avaliar se ela é produtiva ou improdutiva, para desapropriarmos? Por que o Estado não monta uma prateleira de projetos de terras improdutivas? Faz um convênio com as secretarias dos estados que cuidam das terras, e que cada estado e a União apresentem um banco de terras disponível”, disse.

“Nós vamos fazer uma prateleira das chamadas terras improdutivas desse país e terras devolutas, que podemos fazer assentamento agrário, para quem quiser trabalhar no campo sem precisar brigar com ninguém”, prosseguiu.

O presidente também aproveitou a ocasião para repetir o aceno feito na live anterior a empresários do agronegócio e pequenos e médios produtores. “Eu sou contra as pessoas acharem que a gente tem que ser contra um ou outro. Não. Os dois são importantes para o Brasil”, declarou.

E repetiu a promessa de organizar um estoque regulador no país, para assegurar um preço mínimo para os produtos de pequenos e médios agricultores.

Mudanças climáticas e desigualdades

Ao comentar sua viagem à Europa, Lula reafirmou que o combate às mudanças climáticas e ao desmatamento precisa ser acompanhado de ações contra a pobreza e disse que o ser humano precisa se sentir “indignado com a desigualdade”.

“A questão climática é muito séria, mas ela não é só cuidar da Amazônia e manter a floresta em pé. A questão climática tem que cuidar do esgoto a céu aberto, da qualidade de água potável, da qualidade da rua, com a qualidade das casas. É preciso analisar um conjunto inteiro da qualidade de vida da sociedade para a gente poder chegar na Amazônia e mostrar que a nossa floresta ficando de pé a gente pode melhorar e dar sustentabilidade à qualidade de vida do ser humano no planeta Terra”, argumentou.

Na semana passada, o presidente foi à Itália e à França e cobrou mais investimentos de países ricos nas economias menos desenvolvidas e em ações contra as desigualdades sociais, de raça e gênero.

No programa desta manhã, Lula também exaltou a realização da COP-30, a cúpula sobre mudanças climáticas da ONU, em Belém (PA), em 2025. Será a primeira vez que um estado amazônico receberá o evento.

“Eu quero que as pessoas que gostam da Amazônia vão à Amazônia para ver o que é a Amazônia. E tem que saber que lá tem muita árvore, muita fauna, muito tudo, mas também tem muita gente, e a gente da Amazônia precisa melhorar de vida, precisa ter mais qualidade de vida, mais saneamento básico, ter moradia de mais qualidade, ter melhores empregos, melhores salários, melhor educação. É isso que é cuidar do clima, é cuidar do povo junto com cuidar da natureza”, pontuou.

(com Agência Brasil)

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Fonte: Economia Infomoney
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