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Investigações apontam fazendeiros e empresários de Novo Progresso como organizadores do ‘Dia do Fogo’

Interesses políticos dificultam investigações

Os responsáveis pelo fogo também estão dificultando as investigações, segundo policial federal que apura o caso e que foi ouvido pela Repórter Brasil na condição de não ter o nome revelado. O policial disse que os fazendeiros da região são bem relacionados com deputados e senadores do Pará, além de terem interlocução com o alto escalão do governo federal. 

Ele destacou ainda o poder do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, que tem influência na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), que, por sua vez, é bem articulada com a Frente Parlamentar Agropecuária – a bancada ruralista – uma das mais bem organizadas do Congresso. 

Um dos principais representantes dos ruralistas no governo federal, o secretário especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia, esteve em Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira vizinho a Novo Progresso, para participar da Festa do Boi no Rolete no início de setembro. Nabhan Garcia adotou um discurso em que atribui parte da culpa dos incêndios na Amazônia aos povos indígenas. Ele disse, durante Comissão do Meio Ambiente no Senado, que os produtores rurais não são responsáveis pelas queimadas. Entre os convidados do evento estava Agamenon Menezes.

Além de possíveis influências políticas, a rixa entre as polícias Federal e Civil colaboram para o atraso nas investigações – cujo passo mais importante foi dado nesta terça-feira, mais de dois meses após o ‘Dia do Fogo’. 

A loja de insumos agrícolas Sertão pertence a Ricardo de Nadai, que seria o criador de um grupo de WhatsApp com o mesmo nome, onde foram combinados os detalhes do ‘Dia do Fogo’ (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

A disputa entre as organizações começou em novembro do ano passado, quando três federais foram presos por policiais civis e militares em Novo Progresso – e chegaram a passar uma noite na delegacia até serem devidamente identificados. Por conta dessa prisão indevida, um delegado da Polícia Civil de Novo Progresso foi afastado do cargo. Agora, o outro delegado da cidade que cuida das investigações está em férias, o que pode atrasar ainda mais as conclusões do caso. 

As investigações também esbarram em desafios logísticos, já que a delegacia da PF em Santarém fica distante 700 quilômetros de Novo Progresso. A de Altamira fica 970 quilômetros de Castelo dos Sonhos.

Objetivo era desorganizar fiscalização

O procurador Paulo de Tarso Moreira de Oliveira, do Ministério Público Federal em Santarém, também participa das investigações e entende que o objetivo do ‘Dia do Fogo’ era inviabilizar a fiscalização ambiental diante da profusão de focos de incêndio. “Investigamos se as lideranças locais se associaram para mascarar a identificação da autoria, pois não há fiscalização capaz de fiscalizar tantos focos de incêndio ao mesmo tempo”, explica. “Dizer que não aconteceu o Dia do Fogo é ignorar claramente as informações dos satélites”, afirma.

Em toda a Amazônia, as queimadas no mês de agosto foram as maiores desde 2010, com aumento de 196% neste ano quando comparado ao mesmo mês de 2018 (31 mil focos em 2019 ante 10 mil em 2018).

Articulação sobre detalhes do ‘Dia do Fogo’ aconteceu em Novo Progresso, em ação coordenada que envolveu fazendeiros e empresários da cidade, segundo investigação policial (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

A destruição da floresta tropical despertou comoção mundial e mobilizou chefes de estado a se posicionarem pela defesa da Amazônia, o que levou o presidente Jair Bolsonaro a negar a existência do fogo em seu discurso de abertura no 74° Congresso da ONU, em 24 de setembro: “Ela [Amazônia] não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia”.  

Dois meses depois do ‘Dia do Fogo’, porém, o cenário continua desolador no sudoeste do Pará, com trechos imensos de floresta queimados nas estradas de terra que partem da BR-163. A Repórter Brasil flagrou destruição dentro da Flona Jamanxim e da Reserva Biológica Nascentes Serra do Cachimbo, áreas de reserva que, de acordo com a legislação, não permitem atividades econômicas, mas que convivem com criações de gado, extração ilegal de madeira e garimpos clandestinos. 

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Fonte: Reporter Brasil

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