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Em menos de três meses, Creditas capta novo investimento e vira unicórnio

A OPORTUNIDADE DO OPEN BANKING

Sobre o desenvolvimento dos serviços financeiros da fintech, Furio não dá muitos detalhes, mas diz que a Creditas deve explorar as possibilidades do Pix, sistema de pagamentos instantâneos lançado pelo Banco Central no mês passado. “[O Pix] é uma melhoria na experiência do cliente e uma maior abertura da nossa capacidade de entregar crédito”, diz o empreendedor. “Clientes podem chegar na nossa plataforma às duas da tarde de um sábado e às oito da noite do mesmo dia o dinheiro está na conta: isso traz uma melhoria significativa na experiência do cliente.”

Mas o real salto deve vir com o avanço do arranjo de serviços financeiros no Brasil, em particular com o open banking, modelo que deverá ser implementado em estágios a partir de 2021 e permitirá o compartilhamento de dados financeiros de consumidores, com a anuência deles, entre instituições. “O open banking vai nos permitir ter maior clareza sobre a vida do cliente e as oportunidades que podem se extrair [deste cliente]”, aponta.

Hoje, a Creditas precisa de uma série de informações como comprovação de renda para liberar empréstimos – com o open banking, as informações são entregues sem que o cliente precise passar novamente pelo processo, o que significa uma melhora na experiência, além de uma redução no custo operacional, que, segundo Furio, se reflete em custos menores para o cliente.

Além disso, o novo arranjo viabiliza a relação de longo prazo mais certeira com a base. Em um cenário hipotético, um cliente que tem crédito com garantia com a Creditas e uma conta em que recebe o salário poderá integrar o open banking, que permite que a startup saiba quando o consumidor entrou no cheque especial. Surge aí uma oportunidade de, por exemplo, criar uma ordem de pagamento com a Creditas em que o limite de crédito é ampliado e o valor enviado para a conta automaticamente para cobrir o limite e assim, evitar juros.

“A gente sempre fala muito sobre o tema de educação financeira no Brasil, mas isso é uma batalha a longo prazo. Não dá para pegar a população, educá-la e amanhã todo mundo acordar e saber calcular juros compostos. O que precisamos fazer enquanto isso é criar produtos que protejam o consumidor de coisas ruins”, diz o CEO, referindo-se à capacidade de usar o crédito fornecido pela empresa como um “piloto automático”. “É meio que você conseguir ter um parceiro que ajuda na otimização da sua vida pessoal.”

Segundo Furio, a nova rodada também deve apoiar novas aquisições para aumentar o portifólio de serviços, processo que teve inicio com a aquisição da Creditoo, em agosto de 2019: “Essa tendência de Creditas como integrador de outras fintechs e outros modelos de negócio faz bastante sentido para nós, pois acelera o ritmo de inovação e velocidade de lançamento de alguns produtos. Essa rodada também vai ajudar a continuar mantendo essa estratégia”.

O investimento recente também deve dar impulso à operação internacional da empresa. A subsidiária da Creditas no México hoje tem 60 pessoas, e precisou expandir um pouco mais lentamente: “Fomos um pouquinho mais devagar do que a gente teria feito em uma situação normal porque a incerteza era grande, especialmente no México, que está mais volátil do que o Brasil do ponto de vista econômico e político. Mas estamos indo mais rápido que eu pensava”.

Não há planos de uma expansão internacional para além do México, pelo menos por enquanto, diz o CEO. “A gente demorou oito anos para lançar o primeiro mercado internacional, e vamos manter o foco. Nosso negócio é de escala, então vamos fazer o México bem, portanto nos próximos dois anos não vamos expandir para novos países”, aponta.

TRANSPARÊNCIA

Apesar de não gostar da pecha de unicórnio, Furio admite que o surgimento de mais uma empresa com o valor de mercado que a Creditas alcançou manda um bom sinal para o ecossistema nacional e a imagem do Brasil para investidores estrangeiros. “Achamos que cada rodada de investimento é só mais um passinho, independentemente de o valuation ser mais de US$ 1 bilhão ou menos, nada muda nessa perspectiva”, ressalta o empreendedor.

“Mas essa rodada, assim como as outras que aconteceram nesse ano, traz uma sensação de que o investidor está apostando muito nas empresas de tecnologia, e que o medo de mercados emergentes como o Brasil já ficou para trás”, aponta, acrescentando que a transparência é outro elemento desta maturidade.

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