Bunge e Cargill compram soja ‘contaminada por violência e desmatamento’ do Agronegócio Estrondo, diz Greenpeace
Um novo capítulo marca a história das multinacionais Cargill e Bunge – e não é por recorde no processamento de grãos. O relatório do Greenpeace “Cultivando a Violência”, publicado nesta terça-feira (3), mostra que as duas empresas silenciaram diante de denúncias de violações de direitos humanos praticadas contra comunidades geraizeiras pelo Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo, em Formosa do Rio Preto (Bahia) – onde ambas possuem silos e compram soja.
“Essa soja está contaminada por violência e destruição ambiental”, diz Cristiane Mazzetti, da campanha de cerrado do Greenpeace Brasil, sobre o modus operandi da Estrondo, um condomínio de fazendas localizado no oeste da Bahia. Operação da Polícia Federal realizada em novembro levantam a suspeita de que a Agronegócio Estrondo também esteja envolvida na compra de sentenças judiciais em tribunais da Bahia.
Em dezembro de 2017, a Repórter Brasil revelou a escalada da violência contra a comunidade geraizeira – com denúncias de agressões, intimidação com armas e até cerceamento de liberdade – praticados por seguranças da empresa privada Estrela Guia, contratada pela Estrondo. A reportagem flagrou, à época, que a Estrondo ergueu guaritas em vias de acesso às comunidades. Estradas foram fechadas com portão e trancadas com cadeados pelos seguranças armados. Para passar, moradores da comunidade eram obrigados a se identificar e dizer para onde vão e quando voltam. Entre 18h e 6h, a circulação é proibida. “Se alguém ficar doente aqui à noite é obrigado a morrer, porque eles não deixam passar”, disse à Repórter Brasil, em 2017, o morador Guilherme Ferreira de Sousa, de 60 anos.
Apesar das denúncias, o relatório do Greenpeace revela que a Bunge e a Cargill continuam comprando soja produzida na Estrondo. Segundo o documento, as duas gigantes do agronegócio possuem silos próximos a essas guaritas. “As empresas [Cargill e Bunge] têm uma responsabilidade, sim, porque estão atuando dentro do condomínio, ou seja, na cadeia de suprimentos de cada uma delas.”
Segundo o relatório, a Bunge comprou 29 mil toneladas de soja da Estrondo, provenientes da fazenda Centúria – uma das 24 que compõem o conglomerado de área superior a 400 mil hectares – por R$ 30,7 milhões em abril e maio de 2018. Já a Cargill comprou 15 mil toneladas até maio de 2019 por R$ 18,7 milhões.
A Cargill é signatária da Declaração de Nova York sobre Florestas, em que mais de 150 empresas assumiram o compromisso de eliminar o desmatamento da cadeia produtiva da soja, gado e óleo de palma até 2020. A política de sustentabilidade da Bunge vai no mesmo caminho, de respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. Apesar disso, Bunge e Cargill seguiram operando na Estrondo. “O silêncio das empresas têm sido uma constante nesses últimos anos. Esse silêncio é um reconhecimento de que elas não têm uma resposta adequada para dar a sociedade”, afirma Maurício Correia, advogado da comunidade.

Procurada, a Bunge informou que “o silo da empresa não faz parte da área do Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo” e que não não mantém relações comerciais com a administração do condomínio. A nota diz ainda que a empresa se comprometeu a uma cadeia de fornecimento livre de desmatamento até 2025. “Como resultado, a empresa já atingiu mais de 90% de rastreabilidade da cadeia de fornecimento direto em áreas com risco de desmatamento”, e que 99% do volume de soja originada na região de Formosa do Rio Preto provém de compras diretas.
A Cargill informou que a Agronegócio Estrondo “nunca foi fornecedora de soja da empresa”. “A Cargill opera um armazém de grãos na região chamada Estrondo, a cerca de 60 km da área de conflito e do qual não constam acusações legais”, diz a nota, destacando que “quaisquer compras de soja na região de Estrondo vêm de produtores arrendatários que adquiriram direitos legais de uso da terra”. Veja na íntegra o posicionamento das duas empresas.