Bolsonaro distorce fiscalização na carnaúba, setor campeão de trabalho escravo no Ceará
“Esses exemplos frágeis citados por Temer ou que são agora trazidos por Bolsonaro querem descaracterizar o crime em razão do copo, da rede, da espessura de colchão, mas não é assim. Em todas as nossas autuações por trabalho escravo há um desprezo total da dignidade humana”, afirma Lyra. “Estamos falando da falta de dignidade dos trabalhadores, são jornadas de 20 horas diárias, xixi e cocô no mato, barracos de lona e funcionários bebendo água de um córrego sujo usado pelos animais”, completa.
Outras polêmicas na fala do presidente
Bolsonaro também afirmou, sem citar números, que há uma “minoria insignificante” que explora seus trabalhadores de forma semelhante à escravidão. Ele omitiu, no entanto, que entre 1995 e 2018, foram resgatados cerca de 54 mil trabalhadores em situação análoga à escravidão, sendo 42 mil no campo e 12 mil em áreas urbanas, segundo dados da área responsável pela fiscalização no governo federal. A pecuária é a atividade em que mais trabalhadores em condições análogas à escravidão foram resgatados no Brasil, seguido por extração florestal e os cultivos de café e soja, segundo dados do extinto Ministério do Trabalho.
A maior incidência de trabalho escravo no campo não é uma mera casualidade. “Os mais vulneráveis são sempre atraídos por essa forma primitiva de exploração do trabalho, que tem a ver com a trajetória agrária e de escravidão do Brasil”, analisa um dos diretores da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), o juiz do trabalho Marcus Barberino.
Se por um lado é no campo a maior incidência do crime, é também no campo que pode ser sentido o maior impacto negativo se as regras relativas ao trabalho escravo forem relativizadas ou suavizadas. “Haveria um risco enorme para o país, inclusive nas suas relações internacionais, já que temos acordos para combater o crime”, afirma.
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Fonte: Reporter Brasil