Economia

“Banco Central fez um bom trabalho de pouso suave”, diz Campos Neto

Em audiência pública realizada pelo Senado Federal, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, valorizou o trabalho de política monetária feito pela autarquia, mas chamou atenção para níveis ainda elevados de preços no setor de serviços como fator a ser monitorado no combate à inflação.

Uma semana após o BC dar início a um ciclo de queda de juros, com a redução de 0,5 ponto percentual na Selic (atualmente a 13,25% ao ano), Campos Neto disse que a instituição foi uma das poucas no mundo a conseguir gerar convergência da inflação a custos, na sua avaliação, baixos para a sociedade.

“O Banco Central fez um bom trabalho em termos de pouso suave, de trazer a inflação para baixo com o mínimo de custo possível”, afirmou.

Durante a apresentação, Campos Neto mostrou uma comparação com os resultados colhidos mundo afora no mesmo período. Segundo dados do BC brasileiro, entre 2022 e 2023, a inflação doméstica caiu 8,7 pontos percentuais, enquanto as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) subiram 0,3 ponto. Na média dos emergentes, a inflação caiu 1,9 p.p. e as projeções para o PIB, 4,4 p.p.. Já no caso das economias mais avançadas, os dois indicadores recuaram 4 p.p. e 2,4 p.p., respectivamente.

“O Brasil se destaca claramente em uma relação de queda de inflação e pouco dano ao PIB e ao emprego. Temos dificuldade de achar outro país que tenha feito isso com essa eficiência”, destacou.

Em uma abordagem didática, Campos Neto buscou explicar aos parlamentares os fatores que são levados em consideração pelo Banco Central no momento de decidir sobre elevar ou reduzir a taxa básica de juros. Ele mencionou as expectativas de inflação de agentes econômicos e analistas da própria instituição, além dos indicadores implícitos sobre projeções para o comportamento dos preços no futuro.

“Quando eu tomo uma decisão de política monetária hoje, ela leva de 12 a 18 meses para fazer efeito. Então, não consigo tomar uma decisão de política monetária olhando [só] a inflação corrente. Tenho que olhar qual é a expectativa de inflação à frente”, disse.

Também aparecem na lista o hiato do produto, que leva em conta a capacidade de o país crescer sem gerar inflação, e a própria inflação corrente. Sobre esta última, ele chamou atenção para o comportamento dos preços no setor de serviços, que ainda destoa do restante da cesta em uma redução mais tímida em comparação com outros componentes.

“Quando olhamos os segmentos de inflação, no caso do Brasil o que preocupa hoje um pouco mais é a inflação de serviços, que tem caído, mas muito lentamente. Ela preocupa especialmente quando afeta uma inflação de salários. Não temos visto isso ainda. Temos até visto uma melhora recente na inflação, apesar do núcleo da inflação de serviços ainda estar alta”, pontuou.

Em sua exposição inicial, Campos Neto também valorizou o regime de metas de inflação, vigente há mais de duas décadas no Brasil. “Eu vejo às vezes críticas dizendo que o sistema de metas do Brasil falhou, porque a inflação fica sempre fora da meta. Isso não é verdade. Se compararmos com os nossos pares na América Latina, o Brasil saiu sete vezes da tolerância, o Chile saiu oito, a Colômbia oito e o Peru oito”.

E salientou a importância da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) ‒ órgão que ele mesmo integra ao lado dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB) ‒ de manter a meta de inflação em 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual. Segundo ele, o movimento permitiu que o país colhesse uma queda nas expectativas futuras de inflação.

Por outro lado, ele chamou atenção para a inflação implícita de mercado no longo prazo, que voltou a apresentar algum crescimento para os anos de 2025 e 2026. Mas o presidente do BC acredita que haverá convergência na medida em que a a agenda fiscal do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avançar no Congresso Nacional.

“Achamos que isso tem uma correlação grande com expectativa fiscal. À medida que as medidas forem passando e que especialmente as medidas de receita forem sendo aprovadas, devemos ter uma melhora nisso”, ponderou.

Autonomia

Durante a apresentação, Campos Neto também se preocupou em fazer uma defesa da autonomia do Banco Central, que chegou a ser questionada ao longo dos últimos meses pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por aliados políticos.

[A autonomia] Garante um ganho institucional, separa o ciclo político do ciclo econômico e facilita a obtenção de inflação baixa e menores juros estruturais na economia. E alinha o Brasil às melhores práticas internacionais”, argumentou.

E citou estudos que mostram que em momentos em que bancos centrais perderam autonomia na América Latina, houve aumento da inflação. E o contrário, segundo ele, também teria se provado verdadeiro.

“A relação entre autonomia e inflação é tal que a inflação média cai à medida que a autonomia cresça. E a variância de inflação cai quando a autonomia do Banco Central é maior”, disse.

Assim como em outras situações, Campos Neto citou o último ciclo eleitoral como uma evidência do grau de autonomia que o Banco Central brasileiro alcançou, com a elevação de 11,75 pontos percentuais na Selic ao longo de 18 meses até o pleito presidencial.

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Fonte: Economia Infomoney
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