Hambúrguer feito de vegetais invade lanchonetes e supermercados
O mês de maio de 2019 marcou a afirmação da carne vegetal em um cenário que já parecia promissor – e que pode, em uma década, segundo projeções do banco britânico Barclays, conquistar uma parcela de US$ 140 bilhões do mercado de carnes global, o que representa 10% da indústria. Logo no segundo dia do mês, a empresa norte-americana Beyond Meats (BYND) realizou seu aguardado IPO, no qual as ações começaram a ser negociadas a US$ 25 (a expectativa inicial girava entre US$ 19 e US$ 21) e fecharam com alta de 166%, negociadas a US$ 66,75. O frisson não arrefeceu: no dia 11 de junho, uma ação da BYND valia US$ 168,10, mais de 570% de valorização.
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A Impossible Foods, principal rival da Beyond, fundada em 2011, também teve um maio glorioso. Recebeu uma rodada de investimentos de US$ 300 milhões que teve a participação do bolso de gente como Bill Gates, Serena Williams e Jay-Z. Mesmo antes de abrir capital – o que, segundo seu CEO, David Lee, não é prioridade –, a empresa atingiu valuation de US$ 2 bilhões. Outro grande empurrão para a Impossible foi sua parceria com a rede de restaurantes Burger King, que já tem em algumas de suas unidades dos EUA o seu carro-chefe, o lanche Whopper, feito com hambúrguer totalmente vegetal.
Corta para o Brasil, um dos maiores fornecedores de proteína animal do mundo. Das foodtechs às gigantes do setor, todas estão atentas à crescente demanda dos consumidores por uma alimentação mais saudável, politicamente correta (ou “humanizada”) e sustentável (segundo a plataforma global Water Footprint Network, a produção de um quilo de carne consome 15.500 litros de água; um único hambúrguer de carne animal, 2.400 litros; um quilo de soja e de trigo consomem 1.800 e 1.300 litros, respectivamente).
“Cerca de 60% das pessoas no mundo já estão diminuindo a quantidade que consomem de carne animal. No Brasil são 30%. E o flexitarianismo [dieta vegetariana flexível, onde ainda se consome carne mas com frequência bem menor] não para de crescer”, afirma o consultor André Rodrigues, da Loudtt, consultoria especializada no mercado de food & beverage. O processo de fabricação da carne plant based é menos demorado e gasta menos recursos (inclusive naturais). Com o crescimento da escala de consumo e produção, ela tende a ser mais barata que a carne bovina em pouco tempo.
Em solo brasileiro, já são quatro players produzindo hambúrgueres feitos totalmente de plantas – e que levam muita tecnologia em sua receita. A primeira a ganhar os holofotes foi a Fazenda Futuro, fundada por Marcos Leta, também conhecido como criador da marca de sucos Do Bem. “Em 2017, investimos na Good Catch [fabricantes de atum vegetal] para entender mais do processo e da tecnologia. No fim de 2018, chegamos à primeira versão do Hambúrguer do Futuro. Estamos desenvolvendo mais produtos. Cada projeto começa com o estudo da formação dos alimentos – como no caso do hambúrguer: a parte proteica, lipídica e de aminoácidos”, conta Leta.
A estratégia de lançamento do Hambúrguer do Futuro incluía chegar antes a duas lanchonetes conhecidas, a carioca T.T. Burger e, na sequência, nas unidades da Lanchonete da Cidade, todas localizadas em São Paulo. Ricardo Garrido, um dos sócios da Cia Tradicional do Comércio (grupo de restaurantes que inclui a Lanchonete da Cidade), já havia pressentido a mudança de hábitos do consumidor: “Lançamos um hambúrguer vegetariano há mais de oito anos, o Quitandinha, que atualmente é a terceira receita mais vendida da rede. As pessoas começaram a comer mais de forma vegetariana e vegana fora de casa. Passamos a olhar a tendência da carne plant based lá fora e até tentamos contato com a Impossible e a Beyond, mas sem sucesso. Aí, em 2019, conhecemos o Hambúrguer do Futuro”. A próxima rede de lanchonetes a aderir aos hambúrgueres vegetais é o Cabana Burger, que tem nove unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro.