Central Notícias

Queimadas na Amazônia são 3 vezes mais comuns em áreas próximas a frigoríficos

O focos de incêndio triplicaram na Amazônia entre julho e setembro deste ano (Foto: Vinícius Mendonça/Ibama)

As queimadas na Amazônia em 2019 foram detectadas com mais frequência nas regiões produtoras de gado próximas a frigoríficos do que no restante da floresta. Imagens de satélites analisadas pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) revelam que os incêndios na região ocorreram três vezes mais nas áreas dedicadas à produção de carne de boi.

Há dois anos, a ONG brasileira Imazon identificou 128 matadouros em toda a Amazônia e passou a coletar dados para estabelecer as áreas onde essas empresas compram o gado. Por meio de entrevistas com funcionários dos frigoríficos, a equipe de pesquisa determinou a distância máxima que cada empresa percorreria para comprar os animais.

Esses dados foram ajustados para considerar fatores locais, como estradas, rios navegáveis ​​e padrões climáticos, e, assim, delimitar a área potencial máxima de compra de cada frigorífico. São regiões extensas, de centenas de quilômetros quadrados, nas quais diferentes empresas atuam frequentemente de forma simultânea. Em seu conjunto, os dados revelam as áreas da Amazônia onde há criação de gado para produção de carne bovina.

Usando métodos elaborados pelo projeto de sustentabilidade sem fins lucrativos Chain Reaction Research, o jornal britânico The Guardian e o Bureau of Investigative Journalism mapearam os 554 mil alertas de incêndio emitidos pela Nasa na Amazônia Legal, entre julho e setembro, e descobriu que quase 376 mil (70%) estavam nas áreas de compra dos frigoríficos – apesar de essa área cobrir menos da metade da Amazônia Legal.

Gigantes do abate

Algumas das maiores empresas de carne do mundo operam na região. Mais de 250 mil alertas de incêndio ocorreram em áreas de atuação da JBS, a maior fornecedora de carne do mundo, com exportações para a Europa e o Reino Unido.

Foram emitidos também quase 80 mil alertas de incêndio nas prováveis zonas de compra da Marfrig, a terceira maior exportadora brasileira de carne bovina, além de 66 mil alertas próximos a abatedouros da Minerva. Segundo o Imazon, esses três frigoríficos dominam a Amazônia brasileira e respondem por quase metade do gado abatido na região.

Dos 554 mil alertas de incêndio emitidos pela Nasa na Amazônia Legal, entre julho e setembro, quase 376 mil (70%) estavam nas áreas dedicadas à pecuária (Foto: João Laet/The Guardian)

JBS, Marfrig e Minerva afirmaram à reportagem que estão comprometidas com cadeias de fornecimento de carne onde haja “desmatamento zero” e que monitoram seus fornecedores para garantir isso.

“Essa conclusão teórica baseada em estimativas é enganosa e não representa uma relação de causa e efeito”, disse um porta-voz da JBS. “A JBS está trabalhando ativamente para reunir outros executivos e empresas importantes visando a preservação da Amazônia”, continuou.

“Se identificarmos fazendas descumprindo nossas políticas de abastecimento sustentável por qualquer motivo, incluindo o desmatamento, elas serão excluídas de nossa cadeia de fornecimento. Não estamos envolvidos e não toleramos a destruição da Amazônia”, disse a empresa, em nota.

A Marfrig declarou que bloqueou todas as fazendas envolvidas em desmatamento e começou a monitorar os focos de incêndio em agosto deste ano. “Sempre que se identifica qualquer sobreposição de áreas entre as propriedades e os focos de incêndio, há um alerta para que a compra seja reavaliada”, afirmou a empresa.

Para a Minerva, não há provas de que a empresa tenha comprado animais de fazendas onde ocorreram as queimadas. A empresa culpou o clima pela crise de incêndios neste ano: “Não existe conexão comprovada com as atividades do agronegócio.”

O levantamento revela também queimadas em pelo menos três fazendas conhecidas por vender gado diretamente aos matadouros da JBS. Em parceria com a Repórter Brasil, o Bureau descobriu que pelo menos uma delas exporta carne e couro em nível global.

Embora afirmem que não compram gado criado em áreas desmatadas ilegalmente, JBS, Marfrig e Minerva admitem não saber a origem de muitos animais, pois o gado é transferido com frequência entre milhares de fazendas de criação e engorda. 

As empresas dizem também que não são capazes de monitorar seus fornecedores. “Atualmente, ninguém do setor consegue rastrear fornecedores indiretos”, declarou a Minerva. A Marfrig reconheceu que mais da metade do gado que abate é originário desses fornecedores indiretos.

Deixe um comentário