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Via Varejo: Indício de fraude não abala confiança em virada da companhia e ação sobe até 8%

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SÃO PAULO – Em forte disparada nos últimos meses, tendo dobrado de valor de mercado desde maio e em alta de 140% em 2019 com as perspectivas positivas da nova gestão e o ânimo com o resultado da Black Friday, as ações da Via Varejo (VVAR3) tiveram um forte baque no final da sessão da última quinta-feira (12).

Os ativos, que até às 17h54 (horário de Brasília) da última quinta estavam em disparada de 8,14%, viraram para queda e fecharam em baixa de 3,10%, logo após a companhia divulgar fato relevante confirmando indícios de fraude contábil que deve ter um impacto bilionário no resultado do quarto trimestre de 2019.

Em 13 de novembro, os papéis já tiveram uma sessão de forte volatilidade, chegando a ter queda de 9%, mas fechando em baixa menor, de apenas 0,99%. Na ocasião, a empresa havia informado que a primeira fase de investigações sobre as supostas irregularidades contábeis não havia confirmado as alegações (situação que foi alterada com o último comunicado da companhia).

Entre as potenciais irregularidades, a empresa cita manipulação da provisão trabalhista, contabilização incorreta de ativos e passivos e “falhas de controles internos” que podem ter feito erros contábeis passarem despercebidos.

Como o comunicado da última quinta foi divulgado no final do pregão, a expectativa era de que as ações da companhia continuassem reagindo de forma negativa no pregão desta sexta-feira (13), uma vez que o impacto no resultado é bastante considerável.

Conforme destaca Pedro Fagundes, analista da XP Investimentos, o montante com efeito caixa negativo na Via Varejo é de cerca de R$ 900 milhões, a ser desembolsado no intervalo de três e quatro anos – ou cerca de 6% (a valor presente) do valor de mercado da empresa.

Porém, os papéis da dona das marcas Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.com operam em alta durante todo o pregão, chegando a ter um salto de até 8%.

Apesar da notícia ser claramente negativa, analistas apontam que os fatos investigados referem-se às gestões passadas da companhia e que há uma melhora clara na governança corporativa.

Além disso, apesar do valor bastante considerável com impacto no balanço, possivelmente o caixa da companhia não será tão afetado. Isso porque, conforme aponta a XP, o valor de R$ 900 milhões não leva em consideração os ganhos de R$ 600 milhões relacionados a créditos fiscais, atualmente em avaliação (a maior parte já transitado em julgado), bem como eventuais benefícios provenientes de recuperação de impostos (estimados em cerca R$ 270 milhões).

Fundamentos não mudam

Assim, na avaliação de Fagundes, apesar de negativa, a notícia não altera os fundamentos da companhia para os próximos anos e nem afeta os pilares da visão construtiva para as ações da Via Varejo (confira o relatório clicando aqui).

A equipe de análise da XP tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 12, o que corresponde a um potencial de valorização de 20% frente o fechamento de quinta. A visão positiva é baseada em três pilares: i) a maior exposição de duráveis ao ciclo de recuperação econômica; ii) o progresso significativo na reestruturação da empresa e iii) confiança no potencial de melhora de vendas das lojas físicas a partir de 2020, com espaço significativo para diluição de despesas com melhora nas vendas.

O Bradesco BBI também reforça que, apesar das notícias claramente ruins, elas não têm um impacto negativo na capacidade de execução da administração para conduzir a recuperação em andamento e que constitui o case de investimento da Via Varejo.

“Por exemplo, não vemos as notícias impactando negativamente a potencial lucratividade operacional futura da empresa. Também vemos o impacto do caixa como gerenciável”, apontam os analistas do banco. Contudo, a recomendação dos analistas para a ação é neutra, dada a forte alta recente dos ativos.

A Levante Ideias de Investimento também ressalta que a história de “turnaround” operacional da companhia se mantém em seus fundamentos. “No entanto, no curto prazo permanece o ruído na comunicação da empresa com o mercado. E a situação deve piorar antes de melhorar”, destacando que a companhia soltou o comunicado antes do fechamento do mercado e gerando um forte movimento de volatilidade nos papéis nos minutos finais. Vale ressaltar que o fato relevante de novembro também foi divulgado durante o pregão.

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