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Previdência, ações, FIIs e Tesouro: as estratégias para garantir uma renda periódica na aposentadoria

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SÃO PAULO – Ter qualidade de vida na terceira idade não sai barato. Para garantir, portanto, uma renda na aposentadoria a partir dos seus investimento financeiros é fundamental ter um portfólio bem diversificado, com produtos que distribuam rendimentos periódicos para fazer frente às despesas.

Existem hoje quatro tipos principais de investimentos que atendem a essa demanda. São eles: ações, fundos imobiliários, títulos públicos e fundos de previdência privada.

Se por um lado os fundos imobiliários e as ações contam com a isenção de Imposto de Renda sobre os dividendos distribuídos para pessoas físicas, o risco pode ser mais elevado que o das outras aplicações mencionadas e o provento a ser distribuído, menos previsível.

Há quem prefira contar com um fluxo de pagamento constante e calculado via títulos públicos, ainda que os retornos estejam cada vez menores, diante da queda da taxa básica de juros.

Outra opção recai sobre fundos de previdência privada, que têm entre seus atrativos não entrarem em espólio como herança, o que facilita um processo de sucessão patrimonial.

O fato é que não existe receita de bolo quando o assunto é investimentos. Bruno Mori, planejador financeiro com certificação CFP, assinala que a carteira ideal varia de acordo com o perfil de risco e com a necessidade de renda mensal de cada investidor, além da disponibilidade financeira no momento da aplicação.

De forma geral, investidores aposentados tendem a ser mais conservadores. Mas essa tendência não significa que o portfólio deva ser 100% livre de ativos de renda variável, destaca Mori. Ter uma fatia em risco pode ser interessante, principalmente considerando o aumento da longevidade da população brasileira e a queda da taxa básica de juros no país e no restante do mundo.

Antes de qualquer aplicação, o especialista reforça que o investidor precisa sempre respeitar a fatia do portfólio com maior liquidez, a chamada reserva de emergência. “O aposentado pode ter qualquer imprevisto e, em renda variável, perder dinheiro. Então tem que ter boa parte líquida para resgatar, se necessário”, diz.

Segundo o planejador, um valor próximo a 12 meses dos gastos médios precisam estar investidos em aplicações de fácil acesso, como o Tesouro Selic.

Confira, a seguir, as diferenças entre os principais investimentos recomendados para extrair renda na aposentadoria, no que diz respeito a risco, retorno, tributação e sucessão patrimonial.

Ações 

Caso o investidor tenha apetite ao risco, o investimento em ações de empresas conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos pode ser uma boa opção para extrair uma renda periódica.

Normalmente, empresas bem estabelecidas, que tenham as suas receitas crescendo de maneira constante e sem uma necessidade muito grande de investimento, são boas pagadoras de dividendos.

Neste caso, ficará a cargo do investidor, ou de um profissional de investimento qualificado, a escolha a dedo dos papéis para compor o portfólio, uma vez que os fundos de dividendos não distribuem proventos diretamente ao cotista e, portanto, tendem a ser uma alternativa menos recomendada para a situação descrita.

Esses produtos geralmente incorporam os proventos ao patrimônio, com reflexo sobre o valor da cota, aumentando o volume detido por cada investidor.

Mori lembra que, nas ações, a periodicidade do pagamento de proventos (mensal, trimestral, semestral ou anualmente) vai depender da política de cada companhia. Ele cita o caso do Banco do Brasil como um dos cases que pagam com maior frequência. Neste caso, a cada trimestre.

Em agosto, o BB distribuiu R$ 1,26 bilhão em juros sobre capital próprio (JCP) complementar, o equivalente a R$ 0,44 por ação. Antes disso, o pagamento havia sido feito em março, de R$ 0,18 por ação.

“Vale a pena ter duas ou três ações na carteira também pela possibilidade de ganho de capital. Não para ter como trade, mas para deixar para o longo prazo”, diz.

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Na Sonata Gestora de Patrimônio, a preferência recai sobre empresas dos segmentos de utilities e bancos, tradicionalmente mais defensivos e estáveis em momentos de forte volatilidade.

Segundo Camila Sandoval, diretora de investimentos e sócia da Sonata Gestora de Patrimônio, o investidor pode esperar um dividend yield na casa dos 4% em companhias como Alupar (ALUP11), Eletrobras (ELET3) e Sanepar (SAPR11), enquanto grandes bancos podem pagar até 7% ao ano.

“É a possibilidade de ter um dividendo três vezes acima do CDI e com potencial de valorização do patrimônio ao longo dos anos”, afirma.

Outra vantagem está na isenção de Imposto de Renda sobre os dividendos pagos, destaca.

É importante ter em mente que, no caso de morte do titular, as ações deverão ser inventariadas e consideradas na partilha dos bens entre os herdeiros.

Fundos imobiliários

Assim como as ações, os fundos imobiliários são negociados em Bolsa, mas costumam ser mais previsíveis em relação aos dividendos, uma vez que são obrigados a distribuir semestralmente 95% dos lucros aos cotistas. A maioria, entretanto, paga de forma mensal.

Esse pagamento se baseia nos resultados do fundo e, portanto, varia de acordo com o produto. Em outras palavras, momentos de crise, como o atual, podem respingar nos proventos, como aconteceu com fundos de shopping centers, que suspenderam a distribuição no período.

Entre os cuidados na construção de uma carteira de FIIs, Eduardo Akira, assessor de investimentos no escritório Vero Investimentos, afirma que o investidor deve analisar de perto o segmento do fundo, a qualidade dos ativos do portfólio e os inquilinos, bem como os tipos e prazos dos contratos.

Ele destaca que FIIs monoativos, isto é, que investem em um único imóvel, têm mais risco devido à concentração da carteira. Caso o inquilino decida encerrar um contrato, a vacância sobe para 100%, com reflexo direto na distribuição de dividendos.

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Para uma carteira de FIIs focada no pagamento de renda, a diretora da Sonata sugere segmentos como o de lajes corporativas, fundos de fundos, como o Hedge Top FOF (HFOF11), e fundos imobiliários de papel, caso do Kinea Índice de Preços (KNIP11), mais constantes na distribuição de proventos.

Nos últimos 12 meses, o dividend yield do HFOF11 foi de 8,9%, enquanto o do KNIP11 foi de 6,7%, ambos acima da média de dividend yield de FIIs listados na Bolsa no período, de 6%, segundo dados da Economatica.

Da mesma forma como as ações, os dividendos de FIIs são isentos de IR para a pessoa física. Nesse caso, contudo, é preciso que as cotas sejam negociadas em bolsa ou em mercado de balcão organizado; que o fundo tenha, no mínimo, 50 cotistas; e que nenhum cotista detenha 10% ou mais do total de cotas, nem receba rendimento superior a 10% do total de rendimentos do FII.

Na classe, em caso de falecimento do titular, os produtos deverão ser inventariados.

Tesouro Direto 

Considerados um dos investimentos mais seguros do mercado financeiro, os títulos públicos, em especial os indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) com pagamento de um cupom semestral, são boas alternativas para compor um portfólio de renda de perfil mais conservador e assim proteger o capital da inflação, destaca Camila, da Sonata.

Com retornos previsíveis e determinados no momento da compra, o investidor pode contar semestralmente com um juro para compor sua renda.

“Os papéis vão sofrer marcação a mercado, mas o investidor vai saber na data da compra exatamente o quanto vai receber no período contratado”, diz Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos.

É possível conferir as datas dos pagamentos, já determinadas, no site do Tesouro Direto. Os papéis Tesouro IPCA+ com juros semestrais e prazos em 2024, 2026, 2030, 2040 e 2050, por exemplo, pagaram os cupons em 15 de fevereiro e em 15 de agosto deste ano.

Nesta terça-feira (29), os papéis com cupom semestral e vencimentos em 2030 e 2040, atualmente disponíveis para compra, pagavam um prêmio anual de 3,52% e 4,17%, respectivamente, mais a variação da inflação.

Para ter uma renda praticamente mensal via títulos públicos, o investidor precisaria de um mix de papéis na carteira, incluindo diferentes tipos de títulos (prefixados e atrelados ao IPCA e ao IGP-M), com vencimentos variados, como pode ser visto a seguir:

Se tivesse uma carteira diversificada de títulos públicos, o investidor teria a possibilidade de contar com uma renda ao longo de oito meses do ano.

Assim como os FIIs e as ações, os títulos públicos entram em inventário em caso de morte do titular.

A tributação, contudo, é diferente, uma vez que os papéis estão sujeitos à tabela regressiva de IR (que varia de 22,5% à mínima de 15%). Desta forma, o investidor pagará imposto (retido na fonte) todo semestre, quando receber o pagamento do cupom.

Fundos de previdência

Enquanto ações, fundos imobiliários e títulos públicos são investimentos que podem entrar em um portfólio para renda na hora da aposentadoria, os fundos de previdência privada são aplicações que devem ser construídas ao longo da vida.

Quanto mais cedo se começa a poupar, maior a renda disponível no futuro e menor o tributo a pagar.

Na decisão de conversão do plano de previdência em renda, o imposto vai variar conforme o modelo de tributação: se progressivo ou regressivo.

O primeiro tem como base a tabela de Imposto de Renda, que pode isentar o investidor de qualquer tributo ou atingir a alíquota máxima de 27,5%, dependendo do montante pago.

No modelo regressivo, quando a pessoa decide receber uma renda a partir do seu plano de previdência, é calculado o Prazo Médio Ponderado (PMP) das aplicações no plano. Para efetuar esse cálculo, é considerada cada contribuição e seus respectivos prazos no momento da concessão do benefício.

Se o PMP corresponder a 15 anos, por exemplo, a partir da primeira renda recebida, a tributação já será de 10%, o menor percentual na tabela regressiva. Mas se o prazo médio totalizar nove anos, os primeiros 12 benefícios serão tributados pela alíquota de 15% (correspondente a um PMP de oito a dez anos). Como o prazo continua a ser contado, passado esse primeiro ano, o prazo será de dez anos e a alíquota será reduzida para 10%.

Desta forma, a alíquota de IR varia de acordo com o PMP, começando em 35% até chegar ao mínimo de 10%.

Com diferentes planos e estratégias disponíveis, os fundos de previdência se destacam entre as demais opções de investimento citadas anteriormente quando analisado o processo de sucessão patrimonial. Isso porque os beneficiários são indicados na contratação do plano e, em caso de morte do titular, o investimento não entra em espólio como herança.

“Muita gente ainda remete a previdência à do governo, e hoje esse é um produto excepcional, tanto na parte fiscal quanto sucessória”, diz Byron, da Guelt.

Além da baixa alíquota de Imposto de Renda, que pode chegar a 10%, ele cita a ausência de come-cotas, bem como a facilidade de portabilidade.

“Como na portabilidade não tem cobrança de IR, isso deixa a gestão mais eficiente e permite a troca de um fundo que não entrega resultado por outro que está performando, balanceando a carteira”, diz Akira, da Vero Investimentos.

No processo de criação de uma carteira de previdência, o assessor faz alusão a um portfólio tradicional de fundos, isto é, pensando em todas as classes de ativos disponíveis dentro do universo de ações, multimercados e renda fixa, o que permite maior diversificação de riscos.

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Fonte: Infomoney Blog Epolitica

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