Economia

Prévias operacionais de incorporadoras mostram forte 4º trimestre; veja os nomes que mais animam analistas no setor

SÃO PAULO – Depois de um primeiro semestre desafiador por conta da pandemia de coronavírus e das medidas de isolamento social realizadas para conter o contágio da doença, as incorporadoras brasileiras mostraram números sólidos no terceiro trimestre e ao se observarem as prévias operacionais do quarto trimestre divulgadas nos últimos dias, o fim do ano consolidou esta recuperação.

Segundo Renan Manda, analista da XP Investimentos, a retomada do setor como um todo é forte e deve continuar principalmente se levarmos em consideração a velocidade de vendas dos lançamentos. “Logo após o pico da pandemia, uma incorporadora lançar um projeto e vender 50% ou 60% das unidades no primeiro mês é algo muito bom, até porque há sérias restrições a visitar estande, por exemplo”, explica. “Se tudo caminhar como está este ano será bem mais positivo do que 2020.”

A análise é parecida com a feita pelo time de análise do Banco Safra, para quem as baixas taxas de juros tornaram a compra de imóveis mais acessível no Brasil. Além disso, o nível reduzido da Selic (confirmada ontem em 2% ao ano após a reunião do Comitê de Política Monetária – Copom) tornaria ativos imobiliários mais atrativos na comparação com outros tipos de investimento.

Em relatório assinado pelos analistas Daniel Gasparete, Pedro Hajnal e Vanessa Quiroga, o Credit Suisse destaca os bons números das construtoras focadas nos imóveis para consumidores de média renda. “O segmento está vivendo o seu melhor momentum operacional em uma década impulsionado pelas taxas de hipotecas nas mínimas históricas”, avalia a equipe de análise do banco.

De acordo com o banco suíço, as empresas foram surpreendidas pelo repique na demanda, então os lançamentos de novos empreendimentos ficaram aquém das vendas nos primeiros nove meses de 2020 e agora estão se acelerando.

As principais companhias a se beneficiarem deste aumento na demanda pela população de renda média são, segundo o CS, Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3), Even (EVEN3) e Moura Dubeux (MDNE3).

O Bank of America (BofA) também elaborou um relatório falando das prévias operacionais de construtoras e incorporadoras no Brasil, e destacou Cyrela como o destaque nos resultados por conta da aceleração tanto nos lançamentos para baixa quanto para média-alta renda. “A Cyrela é nossa top pick”, resumem a analista Nicole Inui.

No geral, contudo, o relatório do BofA enxerga uma tendência de desaceleração para alguns indicadores das prévias divulgadas até agora. “O aumento na demanda no terceiro trimestre de 2020 impulsionou a velocidade das vendas em média em 455 pontos-base nos segmentos de baixa e média-alta renda. No quarto trimestre, todavia, a velocidade das vendas se desacelerou, caindo 180 pontos-base abaixo dos níveis do ano anterior.”

A opinião da analista é de que a menor velocidade de vendas pode ser atribuída à aceleração dos lançamentos para baixa renda, que cresceram a níveis recordes para algumas empresas enquanto os segmentos de média-alta renda estão demorando mais para retornar aos níveis pré-pandemia.

Os exemplos citados são os de Eztec e Even, que tiveram quedas de 59% e 42% respectivamente nos lançamentos em relação ao mesmo período do ano passado. “Os lançamentos da Cyrela foram uma exceção positiva, superando expectativas com um crescimento de 48% na comparação anual e de 32% na base trimestral para média-alta renda.”

Fora a Cyrela, que teve um crescimento de quatro vezes nos seus lançamentos para baixa renda, Nicole também destaca a Direcional (DIRR3), que registrou um avanço de 30% nos seus lançamentos para esta faixa de renda na comparação anual. A MRV (MRVE3), por outro lado, teve uma retração de 10% nos lançamentos sobre o nível de 2019 apesar da aceleração sobre o trimestre anterior.

Os analistas do Credit Suisse, embora reconheçam que as incorporadoras focadas em baixa renda estão quebrando recordes, têm perspectivas menos otimistas para o segmento.

Para o Credit, esse bom momentum operacional está ancorado em uma demanda ainda resiliente e em ganhos de market share (participação de mercado). Porém, os analistas enxergam um potencial de ganho mais tímido do lado operacional e provavelmente maior pressão por parte dos custos, o que deve prejudicar o resultado líquido trimestral.

Renan Manda, por sua vez, acredita que o segmento de baixa renda já teve um desempenho bastante diverso da média e alta renda principalmente na metade do ano passado, mas as perspectivas continuam otimistas para esse ano.

“As incorporadoras de baixa renda venderam como nunca em 2020 em parte porque a demanda é muito resiliente, também pelos subsídios e, por fim, por ser um mercado muito maior”, explica.

Manda argumenta que os últimos trimestres resultaram na consolidação das empresas dominantes do setor imobiliário como um todo.

“O crédito disponível está com um custo baixo, a demanda continua se recuperando e as empresas estão se preparando para fazer frente a essa procura com lançamentos. Quem tem espaço no balanço para expandir suas operações vai largar bem na frente de agora em diante”, comenta.

A empresa favorita do analista da XP para 2021 é Eztec no segmento de alta renda. A avaliação é de que ela terá quase R$ 3 bilhões em lançamentos e sempre teve mais caixa do que dívida, tendo captado um volume relevante de recursos em 2019, o que se traduziu em espaço no balanço para investir. “É uma companhia bem concentrada em São Paulo, mercado que deve ter uma recuperação muito forte.”

Na baixa renda, por sua vez, a favorita de Manda é Tenda (TEND3). O analista afirma que não só a empresa tem registrado fortes volumes de venda como um aumento significativo na velocidade dessas vendas. “Isso abre espaço para continuar crescendo e expandindo as operações sem acumular estoque”, conclui.

Desafios

O Banco Safra enxerga como grande desafio para o setor daqui para frente enfrentar o aumento na inflação, algo que já incomoda executivos como Diego Villar, presidente da Moura Dubeux. Em entrevista ao InfoMoney, Villar disse que a máxima histórica na cotação do minério de ferro aumentou os custos da companhia por causa do aço usado nas construções.

De janeiro a novembro de 2020, conforme lembraram os analistas do Safra, os preços dos materiais de construção avançaram 17,7%, de acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), enquanto o índice que serve para reajustar os contratos de financiamento imobiliário subiu 8,7% no ano.

“Isso pode afetar especialmente as companhias voltadas ao segmento de baixa renda, que atuam sob um ambiente regulatório que limita a capacidade de repassar custos”, avaliam.

Para os analistas do Safra, também é preciso ter atenção a uma possível alta mais persistente nos preços de terrenos, o que pressionaria principalmente os segmentos de média e alta renda.

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“Nosso time destaca que as empresas do setor já levantaram mais de R$ 7 bilhões com ofertas de ações em 2019 e 2020 – e mais algumas devem ocorrer até 2022. Boa parte desses recursos, avalia nosso analista Luiz Peçanha, deve ser utilizada para a construção de um banco de terrenos com o objetivo de entregar crescimento”, escrevem os analistas.

A consequência disso é que empresas com terrenos insuficientes para os lançamentos projetados para os próximos anos encarariam dificuldades para atingir suas metas de lançamento. “Um risco também é a deterioração da rentabilidade dos projetos se a participação dos terrenos aumentar nos custos totais dos projetos”, apontam.

Confira abaixo o balanço de recomendações das maiores incorporadoras e construtoras do País segundo dados compilados pela Thomson Reuters

Empresa Ticker VGV no 4º tri (em R$) Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda Preço-alvo médio Upside esperado
Cury CURY3 675 milhões 2 0 0 R$ 15,90 41,71%
Cyrela CYRE3 2,87 bilhões 8 2 0 R$ 28,40 9,40%
Direcional DIRR3 231 milhões 7 1 0 R$ 17,45 29,45%
Even EVEN3 675 milhões 5 4 0 R$ 14,06 29,59%
Eztec EZTC3 381 milhões 4 3 0 R$ 36,10 25,29%
Gafisa GFSA3 627,2 milhões 0 0 1 R$ 15,00 246,42%
Helbor HBOR3 433 milhões 3 0 0 R$ 17,67 82,73%
Lavvi LAVV3 497,5 milhões 2 0 0 R$ 13,20 60,78%
Melnick MELK3 115,2 milhões
Mitre MTRE3 463,7 milhões 3 0 0 R$ 18,08 14,14%
Moura Dubeux MDNE3 450,7 milhões 2 0 0 R$ 16,50 67,00%
MRV MRVE3 2,13 bilhões 4 5 0 R$ 20,50 8,07%
Plano & Plano PLPL3 538 milhões 3 0 0 R$ 13,07 95.37%
RNI RDNI3 240 milhões
Tenda TEND3 885,2 milhões 5 5 0 R$ 36,97 32,75%
Trisul* TRIS3 2 0 0 R$ 12,67 22,06%

*Ainda não divulgou prévia operacional relativa ao quarto trimestre de 2020

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Fonte: Infomoney Mercados rss

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