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Os interesses econômicos por trás da destruição da Amazônia

Não foi a primeira vez que a JBS comprou gado de grupos desmatadores. Em 2017, a produtora de proteína animal comprou gado de Jotinha, apelido de Antônio Junqueira, que operava na região o maior esquema de desmatamento ilegal associado a grilagem de terras da história da Amazônia, segundo operação realizada pelo MPF. A denúncia  sobre exportação de carne ligada ao desmatamento, feita pela Repórter Brasil em parceria com o The Guardian, levou o mercado inglês Waitrose, sétimo maior da Inglaterra, a retirar a carne da empresa brasileira de suas prateleiras.

Procurada, a JBS informou que mantém o posicionamento que deu à época da publicação das reportagens, quando afirmou que, “assim que recebeu as informações sobre as irregularidades, todas as compras de gado da família Junqueira foram imediatamente interrompidas”.

Sobre a compra de gado da AgroSB, a JBS informou que “os fatos apontados não correspondem aos padrões” adotados pela companhia. A empresa informou que não adquire animais de fazendas envolvidas com desmatamento ou que estejam embargadas pelo Ibama. A empresa reforça que possui um sistema robusto de monitoramento dos seus fornecedores de gado. 

Já a AgroSB, também em nota divulgada na época da publicação da reportagem, afirmou que comprou a fazenda Lagoa do Triunfo em fevereiro de 2008 e que “nunca realizou qualquer supressão de vegetação no imóvel”. “O modelo de negócio da AgroSB está ancorado na aquisição de áreas abertas e com pastagem degradadas, as quais são adubadas, recuperadas e transformadas em pastos de alta intensidade ou plantações de grãos”, completa a nota.

Plantações de soja

Enquanto a pecuária desmatadora se concentra nos estados da Amazônia Legal, a maioria das plantações de soja ocupam áreas do cerrado. Porém, parte das plantações do grão está no norte do Mato Grosso – cujo bioma é amazônico. Na cidade matogrossense de São José do Rio Claro, por exemplo, a Repórter Brasil flagrou um fazendeiro denunciado e multado por trabalho escravo e desmatamento ilegal que exportava proteína soja para a Noruega. No país nórdico, a soja era usada como ração na criação de salmão.

Ainda que em menor proporção, as plantações de soja também contribuem para a destruição da floresta. Em 2018, o então ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, divulgou estudo revelando que o grão ocupa ilegalmente 47,3 mil hectares de floresta desmatada da Amazônia – aumento de 27,5% na comparação com o registrado na safra anterior (37,2 mil hectares). 

Empresas dinamarquesas compraram, em 2018, madeira irregular de exportadores brasileiros multados diversas vezes pelo Ibama (Foto: Ibama)

A Operação Shoyo, realizada em outubro de 2016 pelo Ibama, investigou no Mato Grosso os compradores de “soja pirata” – grão produzid0 em áreas desmatadas e embargadas. A operação resultou em multas de R$ 170 milhões relacionadas à plantação em áreas proibidas, de acordo com informações do relatório “Salmon on soy beans – Deforestation and land conflict in Brazil”.

A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) divulgou nota nesta sexta-feira (23) em que condena a ocorrência de queimadas na Amazônia em áreas de vegetação e de produção agrícola no norte do Brasil. 

Sobre a extração ilegal de madeira na Amazônia, investigação conjunta da Repórter Brasil e da organização jornalística dinamarquesa Danwatch revelou, no ano passado, que empresas daquele país compraram produtos de exportadores brasileiros multados diversas vezes pelo Ibama. Uma comprovação de que esses crimes não estão sendo bem controlados por redes de fornecedores internacionais. 

Desmatadores financiam campanha

O agronegócio brasileiro tem relações estreitas com a classe política. A JBS foi uma das maiores financiadoras de campanhas políticas em 2014. Executivos da empresa assumiram em delações que destinaram mais de R$ 500 milhões para ajudar a eleger governadores, deputados estaduais, federais e senadores de todo o país. Ainda que a empresa dona das marcas Friboi e Swift não tenha sido diretamente multada por desmatamento, ela mantém entre sua rede de fornecedores diretos e indiretos grupos autuados pelo crime.

Servidores do Instituto Chico Mendes (ICMBio) posaram para uma foto com a frase “Amazônia, estamos aqui”, um recado para governo dizendo que eles estão dispostos a irem fiscalizar e punir os desmatadores e os responsáveis pelas queimadas

Após a prisão dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, em 2017, a empresa parou de financiar campanhas, mas executivos ligados a companhias que foram autuadas pelo Ibama por crimes ambientais – o que inclui desmatamento ilegal – fizeram doações para campanhas de pelo menos 117 deputados e senadores eleitos, que somam R$ 4,2 milhões. Entre os financiados por desmatadores, há nomes proeminentes,  como o do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros. 

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