Economia

Ibovespa fecha em queda de 0,6% pressionado por Petrobras após falas de Bolsonaro; dólar cai a R$ 5,38

baixa gráfico índice

SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (19) e encerrou a curta semana pós-Carnaval com perdas de 0,84% em três dias marcados pelas preocupações com um repique inflacionário nos Estados Unidos e com uma possível guinada populista do governo brasileiro.

Nesta sexta, o índice foi muito pressionado pelas ações da Petrobras (PETR3; PETR4), que despencaram 6,6% depois da declaração do presidente Jair Bolsonaro de que a partir de 1º de março não haverá mais qualquer imposto federal incidindo sobre o óleo diesel. Bolsonaro disse que o reajuste nos preços dos combustíveis anunciado ontem pela empresa é “fora da curva” e “excessivo”.

Ele reforçou que não pode interferir na estatal, mas ressaltou que “vai ter consequência” a decisão da empresa, ameaça vaga que deixa os investidores atentos aos papéis da petroleira.

De acordo com Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da Tendências Consultoria Integrada, o impacto estimado do corte de impostos em combustíveis é de R$ 3 bilhões, mas é importante observar limitações impostas pela legislação para alterações com efeito imediato. Não está claro ainda, por exemplo, se o governo terá de apontar compensações para a renúncia de receita devido à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Para Alessandra, a decisão é questionável também em razão da situação fiscal do governo atualmente. “Tem pressão sobre vários preços. Por que fazer algo pontual para combustível? Isso abre precedente, ainda mais para um governo dito liberal do ponto de vista econômico. É uma medida bem contra essa cartilha, pontual, favorecendo um segmento”, destaca.

Já Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) avalia que o anúncio de Bolsonaro mostra que falta planejamento. “O valor não é tão expressivo, mas cabe lembrar que há uma série de questões não contempladas no Projeto de Lei Orçamentária Anual [PLOA], ao qual se soma esta novidade.”

Lá fora, as bolsas fecharam entre perdas e ganhos após passarem a maior parte do pregão em alta. O movimento veio depois que a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, afirmou que um grande pacote de estímulos econômicos para mitigar os impactos do coronavírus ainda é necessário para que a economia americana se recupere totalmente.

De acordo com Yellen, a proposta do governo do presidente democrata, Joe Biden, de US$ 1,9 trilhão em estímulos poderia ajudar os Estados Unidos a voltarem ao patamar de pleno emprego em um ano. “Acredito que o preço em se fazer pouco é muito mais alto do que o preço em se fazer algo grande”, disse a secretária do Tesouro.

O Ibovespa teve queda de 0,64%, a 118.430 pontos com volume financeiro negociado de R$ 34,97 bilhões.

Enquanto isso, o dólar comercial caiu 1,02% a R$ 5,3849 na compra e a R$ 5,3854 na venda. Na semana, a moeda dos EUA avançou 0,21% sobre o real. Já o dólar futuro com vencimento em março se desvaloriza em 0,74%, a R$ 5,389 no after-market.

Sobre o câmbio, Carlos Menezes, gestor da Gauss Capital, disse à Bloomberg que o mercado vai apostar em um Banco Central mais hawkish (favorável a apertos na política monetária para conter a inflação) para ajudar o real, dado que o juro baixo ajuda a enfraquecer a moeda brasileira e o dólar alto é apontado como uma das causas da alta dos combustíveis.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu quatro pontos-base a 3,44%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de nove pontos-base a 5,13%, o DI para janeiro de 2025 avançou 11 pontos-base a 6,69% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de 10 pontos-base a 7,33%.

Voltando aos EUA, os juros dos treasuries (títulos da dívida do Tesouro americano) com vencimento em dez anos superaram a marca de 1,3%. Juros tendem a aumentar junto à expectativa de inflação, à medida que investidores nesse tipo de papéis acreditam que bancos centrais podem reduzir suas compras de ativos, respondendo aos sinais de aceleração da economia.

Além disso, juros mais altos também podem significar pagamentos maiores para que grandes empresas financiem suas dívidas, o que altera o ambiente para investimentos. Há ainda temor de que a migração de investidores para esses títulos reduza o volume de recursos disponível nos mercados de ações, contribuindo para sua queda.

Na Alemanha, o órgão regulador do país afirmou na quinta-feira que a vacina desenvolvida entre a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford é “altamente eficaz”, e que efeitos colaterais têm curta duração.

Investidores também reagem à divulgação do índice PMI (sigla em inglês para índice do gerente de compras) composto da Zona do Euro, que combina a atividade dos setores de manufatura e serviços, que subiu de 47,8 pontos em janeiro para 48,1 pontos em fevereiro. Qualquer leitura abaixo de 50 pontos indica retração da atividade; acima, expansão.

O índice PMI da Alemanha subiu de 50,8 pontos em janeiro para 51,3 em fevereiro. O da França foi de 47,7 pontos em janeiro para 45,2 pontos em fevereiro.

Já os índices de preços do consumidor japonês teve queda de 0,6% em janeiro em comparação com um mês antes, marcando seis meses de quedas na comparação anual, de acordo com a agência internacional de notícias Reuters.

Bolsonaro fala em mudança na Petrobras

Em sua transmissão semanal nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou na quinta que, a partir de 1º de março, a cobrança de impostos federais sobre o gás de cozinha cairá a zero “para sempre”.

Além disso, o presidente prometeu zerar por dois meses, contados a partir de 1º de março, os impostos federais sobre o óleo diesel, no que pode ser um aceno favorável a caminhoneiros que vêm se mobilizando em torno do tema e ensaiaram uma paralisação no início de fevereiro.

Mais cedo na quinta, o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, havia divulgado uma nota reclamando do anúncio de um novo aumento de preços de combustíveis feito pela Petrobras. Chorão foi um dos articuladores da greve de caminhoneiros de 2018, e cobrou que o presidente Bolsonaro reduzisse os impostos cobrados sobre os combustíveis.

“O que nos faz questionar onde está a palavra do governo federal que na pessoa do presidente da República sinalizou a diminuição dos impostos federais dos combustíveis e vamos para o quarto aumento consecutivo em menos de 30 dias se mantendo inerte e nada fez de concreto até o presente momento”, diz a nota .

Em sua live, Bolsonaro afirmou que considerou o aumento anunciado pela Petrobras, o quarto do ano, “fora da curva” e “excessivo”. “Não posso interferir nem iria interferir [na estatal]. Se bem que alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias, tem de mudar alguma coisa”, afirmou. A empresa afirmou na quinta que não comentará a fala do presidente.

Além disso, a Câmara dos Deputados marcou para esta sexta, às 17h, a sessão para decidir se mantém ou derruba a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi mantida na quinta (18) pelo juiz Airton Vieira, após audiência de custódia.

Silveira foi preso em flagrante na quarta (17) por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, após divulgar um vídeo em que defendeu o AI-5, mecanismo de repressão da ditadura militar que levou ao fechamento do Congresso e de Assembleias Legislativas de estados, a instituição da censura prévia, a destituição de parlamentares e a suspensão de direitos políticos de cidadãos considerados “subversivos”.

Silveira também defendeu a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ambas as reivindicações são inconstitucionais.

Na quinta, o presidente do Supremo, Luiz Fux, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) se reuniram. Lira negou que a prisão de Silveira tenha sido discutida, mas afirmou que “não há qualquer tipo de crise entre os poderes”, e que o caso do deputado é “absolutamente fora da curva”.

Em entrevista publicada no jornal Folha de S. Paulo, Fux afirmou que ataques e ameaças a ministros da corte serão “repugnadas” de maneira coesa pelo plenário do tribunal, “venham de onde vierem”.

Covid e PEC emergencial

O consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil divulgou, às 20h de quinta (18), o avanço da pandemia em 24 h no país. A média móvel de mortes em 7 dias foi de 1.030, queda de 2% em relação ao patamar registrado 14 dias antes. Em apenas um dia houve 1.432 mortes, a quinta maior marca já registrada.

A média móvel de casos confirmados em 7 dias foi de 44.621, queda de 5% frente ao período encerrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 49.368 casos.

Até o momento, 5.558.105 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid no Brasil, o equivalente a 2,62% da população. A segunda dose foi aplicada em 837.094 pessoas, ou 0,40% da população. Analistas vêm apontando a velocidade da imunização como um dos fatores a influenciarem a retomada da economia.

Está marcada para quinta-feira (25) a votação, no plenário do Senado, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) emergencial, que cria gatilhos para a contenção de despesas de União, estados e municípios, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro.

Em troca, o presidente comprometeu-se com líderes do Congresso Nacional a enviar uma medida provisória propondo a retomada do auxílio-emergencial, pago a pessoas em vulnerabilidade social em decorrência da pandemia.

Segundo o jornal Valor, parlamentares se reuniram na quinta para tratar do assunto, dentre eles, o presidente da Câmara, Arthur Lira, o relator da PEC emergencial, Márcio Bittar (MDB-AC), o líder do governo Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), o líder da minoria, Jean Paul Prates (PT-RN), e a presidente da Comissão Mista de Orçamento, a deputada Flávia Arruda (PL-DF).

Segundo Coelho, a PEC emergencial será enxugada e trará apenas quatro pontos fundamentais, a serem definidos. Prates afirmou ao Valor que esses pontos seriam: “o acionamento de gatilhos, equilíbrio fiscal intergeracional, sustentabilidade da dívida e mais um ponto passível de definição”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, procurou o presidente da Câmara, Arthur Lira, preocupado com o confronto entre Judiciário e Legislativo, com a prisão do deputado Daniel Silveira.

Ele teme que o confronto dificulte o andamento de projetos da pauta econômica, e a inclusão na PEC emergencial de uma cláusula de calamidade pública que, em sua avaliação, viabilizará a retomada do auxílio emergencial, do ponto de vista fiscal. Lira, que já tinha se reunido com Bolsonaro para tratar do assunto, buscou tranquilizar o ministro, segundo o jornal.

“Ficou ajustado na reunião de líderes do Senado que pautaremos a PEC emergencial. O parecer será apresentado entre hoje [quinta-feira] e segunda-feira pelo relator”, afirmou Lira ao Valor.

Radar corporativo

Além de Petrobras, o destaque fica para o resultado do IRB. O ano de 2020 terminou com um prejuízo líquido acumulado para o ressegurador de 1,5213 bilhão, ante lucro de R$ 1,210 bilhão no mesmo período de 2019. No quarto trimestre do ano passado, o prejuízo totalizou R$ 620,2 milhões, comparável a um lucro de R$ 654,4 milhões nos últimos três meses de 2019 e ante o prejuízo de R$ 229,8 milhões no terceiro trimestre de 2020. A empresa divulgou seus números no final da noite da última quinta-feira (18).

A JHSF Participações reportou após o fechamento na quinta uma queda de 10,4% no lucro líquido no quarto trimestre de 2020, de R$ 211 milhões para R$ 189,2 milhões, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No acumulado de 2020, houve alta de 98,6%, para R$ 638,9 milhões. A receita líquida consolidada subiu 111% nos últimos três meses do ano, a R$ 394,6 milhões. No acumulado de 2020, houve alta de 84,4%, a R$ 1,17 bilhão.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
BTOW3 7.46988 89.2
PCAR3 3.43627 89.1
AZUL4 3.30969 43.7
EMBR3 3.09735 11.65
CSNA3 2.89813 35.15

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
PETR3 -7.50934 27.22
PETR4 -6.21797 27.45
IRBR3 -4.06015 6.38
RAIL3 -3.20197 19.65
VVAR3 -3.10559 14.04

Já a Locaweb anunciou que assinou contrato de compra e venda de ações da Credisfera, uma fintech. A operação foi realizada por meio da subsidiária Tray pelo valor de R$ 26,6 milhões. O Conselho da Raia Drogasil aprovou a compra de 100% da Techfit. A Vale criou diretoria executiva para sustentabilidade, a Unidas aprovou a emissão de R$ 450 milhões em debêntures

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