Economia

Ambev: o gigante acordou, mas por quanto tempo? Analistas divergem sobre rumo da ação em meio à alta de 10% no mês

Ambev

SÃO PAULO – A temporada de resultados do terceiro trimestre nem começou para as empresas brasileiras, mas a expectativa sobre o que virá no período já movimenta algumas ações, como é o caso da fabricante de bebidas Ambev (ABEV3).

A gigante do setor irá reportar os seus dados só no dia 29, mas a estimativa de recuperação em meio aos dados parciais de agosto e setembro e algumas notícias pontuais sobre a companhia fizeram com que a ação avançasse 9,65% apenas em outubro até o fechamento do dia 13, mais do que o dobro do Ibovespa no mesmo período, já que o índice subiu 4,12%. Com isso, a ação conseguiu recuperar parte das fortes perdas que registra no ano – ainda de 26% – , enquanto o Ibovespa cai cerca de 15% em 2020. Contando essa sessão (e a alta de 1,16% dos papéis às 14h15), os ganhos eram superiores a 10%, ante alta de 5% do Ibovespa no mês.

Um dos fatores que levam ao maior otimismo é a expectativa de um forte volume de vendas de cervejas. Entre as casas de análise mais animadas com o case da companhia, o Credit Suisse afirmou em relatório da última semana que o “gigante acordou” ao se referir à fabricante de bebidas.

Os analistas do banco suíço projetam um crescimento de 14% nas vendas de cerveja no terceiro trimestre no Brasil na comparação anual, embora os preços devam melhorar apenas no quarto trimestre.

O Credit aponta que o desempenho é resultado de uma execução positiva da empresa, beneficiando-se de um cenário competitivo mais favorável, reabertura das atividades no país e prováveis ventos favoráveis de curto prazo com atraso no repasse de preços em comparação com a Heineken.

Para o segmento de cervejas, a expectativa é de que os meses de julho a setembro devam ser os mais fortes da história recente para o Brasil, com aumento na produção de 20% em agosto, sendo seguidos de meses fortes, com alta de 23% em julho e de 15% em junho. A recomendação do banco para os papéis é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 18, o que configura um potencial de valorização de 31% em relação ao último fechamento.

Outras notícias que corroboram o cenário também foram o destaque. De acordo com estudo divulgado pela Folha de S. Paulo no último fim de semana, a falta de cerveja no supermercado é a maior em dois anos. Segundo a Neogrid, empresa de software que monitora os pontos de venda, o indicador de escassez de cerveja no varejo brasileiro está em 16% versus um número entre 9,5% e 10% entre julho e agosto de 2019. Isso pode estar relacionado a gargalos de produção, devido à escassez de latas e garrafas.

Sobre isso, o Bradesco BBI destacou que houve um aumento na demanda por cerveja devido à assistência emergencial e potenciais gargalos com concorrentes (que podem incluir escassez de embalagens, conforme mencionado pela notícia), que pode ajudar a suportar um desempenho de volume mais forte para a Ambev no curto prazo.

Cabe destacar que, segundo os analistas do Credit, além do cenário mais positivo para venda de cervejas, a expectativa é de que a Ambev ganhe participação frente a cervejaria Petrópolis, uma vez que a fabricante da Itaipava teve problemas de desestocagem no varejo no início da pandemia.

Enquanto isso, recentemente, a Ambev inaugurou uma fábrica só de latinhas em Sete Lagoas (MG), também como forma de mitigar os custos (veja mais aqui). A companhia teve que conviver com margens mais apertadas em razão do maior consumo de cervejas em lata durante a pandemia. As garrafas retornáveis são mais rentáveis, mas têm uma logística ideal para bares e restaurantes. No consumo doméstico, as latinhas são mais populares – e foi justamente esse consumo que aumentou durante a pandemia. A fábrica tem capacidade de produção de 1,5 bilhão de latas por ano.

Céticos ainda são maioria

Por mais que o cenário mais otimista de curto prazo esteja se desenhando para a companhia, a maior parte das casas de análise ainda segue bastante conservadora com o papel. De acordo com dados da Refinitiv, de 13 casas que cobrem a ação, apenas 3 recomendam compra, enquanto 8 recomendam manutenção e 2 recomendam venda.

Entre os conservadores, está o Morgan Stanley, que possui recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) e preço-alvo de R$ 14 para o papel, o que representa uma alta de apenas 1,82% em relação ao fechamento da última terça-feira.

Em relatório datado do final de setembro – ou seja, antes da expressiva alta desse mês -, o analista Ricardo Alves havia apontado que o volume de vendas de cervejas poderia surpreender positivamente, sendo um catalisador para os ativos no curto prazo.

Porém, a incerteza sobre o perfil de crescimento para a companhia no longo prazo (ou seja, após 2020) e sobre a recuperação das margens segue limitando uma visão mais positiva do analista do Morgan para o papel.

“Temos sido mais cautelosos com ABEV3 (principalmente em questões de concorrência e poder de preço) e achamos que precisamos de mais do que alguns trimestres de boas notícias sobre os volumes. Em nossos números revisados, vemos a ação sendo negociada a 19 vezes a relação entre preço e lucro esperada para 2021, ligeiramente abaixo de sua média de 10 anos, mas ainda não particularmente atrativa. Para obter mais otimismo, precisaríamos de mais evidências positivas em nossas estimativas para 2021”, aponta o analista do banco.

Isso significa mais evidências de que o canal local está voltando mais rápido ou que a vantagem competitiva que a Ambev teve sobre os concorrentes durante a pandemia é sustentável (principalmente com varejistas de pequeno formato). “Nesses cenários, poderíamos ver mais ganhos de participação (maior crescimento em 2021) e recuperação do poder de precificação (ajudando as margens a se recuperarem mais rapidamente em 2021). Ainda não chegamos lá, mas damos algum benefício da dúvida”, complementa, ao elevar as estimativas para a companhia de curto prazo. O preço-alvo anterior para a ação era de R$ 13.

Além disso, Alves aponta que, uma vez que o auxílio emergencial no Brasil teve grandes implicações para o consumo local, há preocupação com o desempenho no primeiro trimestre do ano que vem à medida que os benefícios forem diminuindo.

“Também esperamos que as margens permaneçam muito deprimidas em 2021 (com a margem Ebitda do Brasil potencialmente caindo ano a ano) devido aos custos mais altos do alumínio e à pressão do dólar americano (que corresponde a cerca de 50% dos custos dos produtos vendidos). Em nossa visão, essa pressão nas margens parece já ser bem entendida pelos investidores hoje no segundo semestre, mas 2021 continua sendo um grande ponto de interrogação. Na verdade, nossa previsão de Ebitda para 2021 permanece cerca de 2% abaixo do consenso, o que corrobora nossa recomendação neutra”, avalia o Morgan. O Ebitda é o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, enquanto a margem Ebitda é a relação entre o Ebitda e a receita líquida.

Unindo-se ao Morgan em meio ao ceticismo com os papéis, está o Bradesco BBI, que também mostra preocupação com a demanda após o término do auxílio emergencial. O preço-alvo é um pouco mais alto do que o do banco americano, de R$ 15,50 (upside de 12,7%), enquanto a recomendação é neutra.

Além disso, os analistas do banco também destacam que, após sofrer com seu estoque durante a pandemia, a Petrópolis inaugurou uma nova planta de tamanho considerável em agosto, que deverá operar com capacidade total em 2021.

Assim, apesar de verem uma recuperação no curto prazo para os papéis, os analistas do BBI e do Morgan ainda esperam para ver se os números positivos para a companhia devem continuar. Para eles, ainda há dúvidas sobre o período de tempo em “gigante” da indústria seguirá acordado.

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Fonte: Infomoney Mercados rss

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