Política

23 de março: por que esse foi o dia mais marcante da crise para um dos maiores investidores brasileiros

SÃO PAULO – “Uma crise é algo muito valioso para ser desperdiçado.”

O pensamento acompanha Roberto Vinhaes, um dos mais bem-sucedidos gestores de recursos do país desde que ele começou a investir, ainda adolescente, na década de 70.

Um dos fundadores da Investidor Profissional, a primeira gestora de recursos independente do país e até uma hoje uma referência no mercado, Vinhaes tem experiência em procurar oportunidades na Bolsa em períodos caóticos.

Fez isso logo depois do Plano Cruzado no Brasil, em meio à crise de 2008 e está fazendo isso agora.

Para Vinhaes, o dia 23 de março foi o mais marcante da crise atual, provocada pela pandemia do coronavírus. Em um mês até aquela data, o Ibovespa, caiu 45%. Já o S&P 500 perdeu quase 35%.

“Os investidores estavam jogando a água fora junto com o bebê”, disse ao InfoMoney. “Era o momento de comprar ações de boas empresas, bem geridas, por preços mais baixos.”

Há alguns anos, Vinhaes investe apenas no mercado externo – em 2016, depois de sair de vez da IP, ele montou a Pipa Global Investments, com sede em Londres.

No dia 23, ele comprou ações de companhias como Adidas, Adobe e Disney, que haviam caído 40%, 8% e 30%, respectivamente, em um mês.

“No caso da Disney, os investidores entraram em pânico por conta do fechamento dos parques e esqueceram que, ainda que os parques sejam importantes, a empresa é bem mais que isso”, diz.

Um dos pontos forte da companhia, na sua opinião, são os personagens de sucesso que podem gerar receita continuamente, como Rei Leão.

Além disso, o recém-lançado serviço de streaming Disney+ cresce de forma acelerada e ultrapassou a marca de 50 milhões de assinantes em menos de seis meses.

Já a Adidas está em meio a um processo de transformação digital que deve gerar resultados, na avaliação de Vinhaes. E a Adobe tem expertise para desenvolver experiências online, algo que está sendo mais procurado em meio à crise.

“Acompanho empresas e gestores por longos períodos, para entender a fundo como atuam, e invisto quando a oportunidade surge. Foi assim com a Adidas”, diz.

Vinhaes diz ainda que tem uma “grande posição em ouro”, que está lá para ser usada para comprar o que ficou barato.

Três porquinhos

Vinhaes conta que passou as últimas semanas analisando no detalhe as demonstrações de resultados do primeiro trimestre. “Nunca vivi uma temporada de balanços tão interessante quanto esta”, afirma ele, que é um dos entrevistados do livro Fora da Curva 2.

Um ponto que chamou a atenção foi a mudança na maneira como algumas companhias passaram a divulgar resultados. “Algumas chegaram a informar o Ebitda excluindo os impactos do coronavírus. Não faz o menor sentido.”

“Passei a olhar apenas os documentos oficiais, e não as apresentações das empresas, que parecem a história dos três porquinhos.”

Outro destaque – dessa vez, positivo – foi o fato de mais empresas pararem de “empurrar mudanças com a barriga”.

“Muitas coisas acontecem de um determinado jeito simplesmente porque sempre foi assim. Mudar é difícil e muitas vezes os incentivos das empresas vão nesse sentido”, diz.

“Agora, não dá para esperar: é preciso investir de fato em estratégias digitais, por exemplo.”

Na opinião de Vinhaes, as pessoas estão reavaliando seu estilo de vida e muitas mudanças geradas pela pandemia devem se manter – e afetar setores como o imobiliário.

“Uma casa de frente para a praia é algo único e deve manter seu valor. Mas será que vamos precisar de zilhões de metros quadrados de escritórios que são usados apenas 10-12 horas por dia? Duvido.”

O desafio para um gestor de recursos é como ganhar dinheiro nesse processo.

“Concorrência é fogo”

Uma empresa que entrou no radar de muitos investidores, mas não no de Vinhaes, foi a startup Zoom, que oferece um serviço de chamadas de vídeo pela internet – suas ações subiram 160% só em 2020.

“É um negócio promissor, sem dúvida, mas o Zoom não tem o que Amazon e Netflix tiveram, que são anos de vantagem antes de algum concorrente pensar em entrar em seus mercados”, diz.

Para ele, pode acontecer com o Zoom o mesmo que aconteceu com o Yahoo!, que criou um popular sistema de buscas, mas acabou superado por um concorrente mais forte surgido depois, o Google. “Concorrência é fogo.”

Em relação à pandemia de coronavírus, Vinhaes diz que não ficou surpreso com o fato de estarmos enfrentando uma crise de saúde – “sempre acho que tem um crocodilo embaixo da mesa”.

Mas ficou chocado com o fato de os governos estarem tão despreparados para isso.

“Num certo sentido, até consigo entender isso: na lógica dos governos atualmente, as grandes questões vão ficando para depois. Imagina como seria criticado um governo que dissesse, há alguns anos, que estava investindo para se preparar para uma pandemia. A última pandemia aconteceu há 100 anos”, diz.

Para ele, uma das poucas certezas da crise atual é que ela provocará um aumento de impostos, necessários para pagar a conta da ajuda às economias.

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Fonte: Infomoney Blog Epolitica

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